sábado, 5 de maio de 2012

Esses pais são umas mães... (Marcella Brum)


     Ele não nos carregou por nove meses na barriga e nem sentiu as tão temidas dores do parto, atenuantes para qualquer mulher ter supremacia em relação aos filhos. Também não costumamos nos espelhar em seus trejeitos e muito menos na forma que ele se veste. E, talvez, certas dúvidas, quanto a algumas questões femininas, se tornem vez ou outra embaraçosas para ambos. Mas para aquele pai que é uma verdadeira mãe, estes não são argumentos suficientemente sólidos para lhe furtar o direito de dar vazão a seus instintos de cuidar das crias.
     Atualmente, muitos pais não se contentam mais apenas com o papel de provedor, que a sociedade há tempos definiu. Trocar fraldas e dar de mamar era visto como coisa de mulher. E, hoje, eles rasgaram a velha cartilha, que mostrava o que era atribuição do papai e o que era da mamãe, para arregaçar as mangas do paletó e cuidar pra valer dos filhos. A terapeuta familiar Vera Risi traça um perfil da família através dos tempos para explicar essa nova forma de exercer a paternidade. “O pai dos anos 50 era apenas provedor e pouco afetivo, tarefa que cabia à mãe. Nos anos 70 e 80, os homens começaram a expressar afetividade com os filhos e, por causa do amor incondicional que tinham, se tornaram pais extremamente permissivos. Já nos anos 90 e 2000, como a maioria das mães trabalha, passou a existir uma demanda da participação do pai no cuidado dos filhos”, descreve Vera.

     Para Maria Tereza Maldonado, autora do livro “Comunicação entre Pais e Filhos”, da Editora Saraiva, alguns fatores colaboraram para essa transformação do pai em uma mãe. “A mulher, hoje, está mais inserida no mercado de trabalho, deixou de ser a única cuidadora para ser também provedora junto com o pai. Por isso, tornou-se necessário que homens e mulheres partilhem funções”, comenta a psicóloga, afirmando ainda que a mudança da maneira do homem pensar foi fundamental para que tudo isso acontecesse. “O homem teve que se atualizar até mesmo para não ficar sem função dentro da família. Se a mulher sustenta a casa, cuida dos filhos e arca com as própria atitudes, pra quê marido que não participa?”, indaga Vera Risi.

     Já outros homens são obrigados a se entender, querendo ou não, com fraldas, mamadeiras e tudo mais que diga respeito ao universo dos filhos, por motivos como separação ou viuvez. “Quando me separei, a minha maior dificuldade era ficar longe das crianças. Queria que não fossem apenas visitas e, sim, que elas tivessem também uma rotina de casa comigo. Passei a pegá-las no colégio, a fazer jantar e a passar finais de semanas inteiros tratando de tudo sozinho, até tênis eu lavava”, conta o engenheiro Fernando Marques, que hoje está casado novamente com mais um filho e uma esposa, que não tem o que reclamar das noites em que o bebê resolve dar uma esticada. “Eu ficava impressionada com o cuidado do Fernando com as crianças. Achava tão bonitinho elas saindo de mochila para a escola e o Fernando de pasta para trabalhar, perguntando se tinham guardado o lanche. E o bom disso é que ele se tornou superpreparado como pai do meu filho, fica quantas horas for com o Gabriel no colo tentando fazê-lo dormir de madrugada”, revela Ana Paula, mulher de Fernando.
     Maria Tereza Maldonado acredita que a mudança do conceito familiar também contribuiu bastante para que os pais assumissem outra postura com a criação dos filhos. “O pai separado ou viúvo precisa desenvolver aspectos de cuidador, como conferir se o filho lavou a orelha direito e se a casa está funcionando em ordem. Por mais que ele tenha quem o auxilie nessas tarefas, o comando é dele”, diz ela. E para quem ainda tem preconceito quanto a um homem na cozinha, de avental sujo de ovo, com a filharada em volta, aí vai uma informação: a Legislação Brasileira já deu o direito de qualquer um que tenha condições, mesmo um homem solteiro, adotar uma criança. No mais, a regra é clara: toda criança merece carinho, cuidado e atenção.

"Esses pais são umas mães..." de Marcella Brum (http://www.bolsademulher.com/familia/esses-pais-sao-umas-maes-2642.html)

     O que podemos presenciar, nos dias de hoje, é a transformação de antigos modelos que muitos não acreditavam que pudessem ser mudados. Muitos homens têm encarado a paternidade de uma outra maneira, diferente daquele esteriótipo masculino a que estávamos acostumados.
     Já se foi o tempo em que os homens não participavam do cuidado dos filhos e somente serviam como uma figura distante, apenas de sustento financeiro. Cada vez mais, homens têm se envolvido e se tornado verdadeiros pais cuidadores de seus filhos enquanto, em alguns casos, as mulheres têm se tornaram profissionais não somente em casa, mas também fora dela.
     Padrões de comportamento estão em plena transformação uma vez que, aquilo que era considerado "normal", de mulheres terem que ficar em casa e cuidar das crianças enquanto os homens trabalhavam e tinham o papel de provedor, está sendo substituído pela novidade dos pais optarem pela paternidade participativa e as mães pelo desenvolvimento de uma carreira profissional.
     Esses casos não são a maioria, mas merecem nossa atenção de, quem sabe um dia, vivermos em uma sociedade igualitária e sem preconceitos com as escolhas de cada individuo, inclusive de decidir quem possui mais condições e vocação de cuidar e educar filhos.
(Laianna Andreolla)

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