domingo, 30 de junho de 2013

Quebrando os estereótipos da Terceira Idade

Lee em “Senhor dos Anéis”
Christopher Frank Carandini Lee nascido em Londres, 27 de maio de 1922. Além de atuar em inúmeros filmes, sendo conhecido mundialmente interpretando o Conde Drácula, ele tem uma banda de Heavy Metal. Ao contrário do que pensamos de pessoas com mais de 90 anos, o ator está plenamente ativo e produtivo em ambas as carreiras.
      
       
Conforme as pessoas vão envelhecendo e passando pelos acentuados declínios no funcionamento sensório e psicomotor, outras praticamente não sentem qualquer mudança em sua vida cotidiana – temos como exemplo vivo Christopher Lee.

 “Quem é este indivíduo a quem se dirige o termo terceira idade? A primeira idéia que vem à cabeça quando perguntamos a alguém sobre o que é ser idoso é uma tênue alusão a aspectos como doenças, fragilidade, invalidez e, principalmente, perda de memória. Não é raro perceber o afloramento do preconceito com a velhice mesmo quando alguém diz que o outro está ficando velho pelo fato de não conseguir se lembrar, por exemplo, de onde deixou a chave do carro. Por outro ângulo, quando os primeiros fios de cabelo branco começarem a emergir em nossas cabeças, certamente, iremos ouvir a afirmativa: “você está ficando velho!””
“Sobre alguns conceitos e características de velhice e terceira idade: uma abordagem sociológica” de Gilberto Pinheiro Junior.

O envelhecer não é mais o mesmo de décadas atrás. A expectativa de vida tem crescido cada vez mais no mundo. E o que antes representava o “ser velho”, hoje não é mais o mesmo; muitos problemas que costumavam ser considerados como parte da velhice, são compreendidos como decorrentes de estilo de vida ou doenças.
 Atividade física e nutrição são uns dos principais fatores de estilo de vida mais saudáveis que podem permitir que um número crescente de jovens e de adultos de meia-idade mantenham um alto nível de funcionamento físico até boa parte da velhice.
Mas não é só de saúde física que queremos viver ao chegarmos à terceira idade. Com relação ao desempenho cognitivo, algumas capacidades podem declinar nos anos de velhice, outras permanecem estáveis ou até se aperfeiçoam durante a maior parte da vida adulta. Nossas capacidades cognitivas específicas (como raciocínio, habilidades espaciais e memória) não parecem regredir rapidamente, pois existe uma variação individual que indica que os declínios no funcionamento não são inevitáveis e podem ser prevenidos – voltamos ao exemplo vivo do Sr. Lee.

Produtividade na Terceira Idade

"O envelhecimento produtivo sugere um indivíduo que se envolva em atividades de realização significativas, pessoalmente satisfatórias e com um impacto positivo nas suas próprias vidas e nas dos outros” (Kaye, Butter & Webster, 2003)

Alguns pesquisadores concentram-se na atividade produtiva, seja ela remunerada ou não, como o segredo para um bom envelhecimento. Eles apóiam a idéia de que a atividade produtiva desempenha um papel importante no envelhecimento bem-sucedido e de que pessoas mais velhas podem não apenas continuar a serem produtivas, como também podem tornar-se ainda mais produtivas.


Um indivíduo saudável física e cognitivamente, pode chegar a uma idade avançada consciente e produzindo; passando pelo processo de envelhecer com qualidade. Existem inúmeras atividades e cada vez mais idosos têm se encaixado para produzirem e se sentirem mais satisfeitos com relação a sua vida e seu lugar na sociedade; passando assim, por experiências que causam um impacto mais positivo na vida.
 Vários fatores influenciaram a maior expectativa de vida, a produtividade e melhora de saúde dos idosos; como as maiores opções de lazer e tecnologia, que nos mantém menos isolados, mais atualizados, aprendendo e adquirindo conhecimento nas mais variadas áreas.

 

 Aperfeiçoamento Cognitivo

  

Como vimos na disciplina de Neurociências e Comportamento, a (neuro)plasticidade é a capacidade de o desempenho cognitivo ser aperfeiçoado com treinamento e prática – inclusive na terceira idade.
Estudos longitudinais sugerem que o treinamento pode permitir que pessoas mais velhas não apenas recuperem a competência perdida, como também até superem seus resultados anteriores (Schaie e Willis, 1996). Portanto, a deterioração cognitiva pode, com freqüência, estar relacionada com a falta de uso. Pessoas mais velhas que recebem treinamento, prática e apoio social parecem ser capazes de utilizar reservas mentais.
A neuroplasticidade é principalmente usada em pacientes para reabilitações de lesões.
Papalia, Diane E.. Desenvolvimento Humano

Marcella Ranheri de Souza

 




Um olhar sobre a velhice a partir do filme "Amor"

O filme “Amor” retrata a história do casal de idosos Anne e Georges. Eles costumavam ter uma vida bastante independente, pois moravam sozinhos e sua única filha morava em outro país com sua própria família. É perceptível que o amor acompanhava esse casal em todas as suas atividades, pois eles eram muito unidos, cúmplices. Contudo, Anne sofre um derrame, que paralisa o lado direito de seu corpo. A partir disso, Anne se vê totalmente dependente dos cuidados de Georges. Ao longo da jornada de cuidados diários, Georges tenta tranquilizar Anne e demonstrar que ele a ama, pois ela sente-se como um fardo para seu marido na atual condição.
Acompanhamos a degradação da saúde de Anne, e os esforços de Georges para fornecer à sua amada os melhores cuidados possíveis. Entretanto, Georges também é um idoso, e começa a enfrentar dificuldades para cuidar de Anne sozinho. Ele contrata, então, uma enfermeira para auxiliá-lo nos cuidados. Enquanto isso, o estado de Anne segue piorando: inicialmente, ela estava impossibilitada de mover o lado direito do corpo; agora, sua fala estava comprometida, a cadeira de rodas foi substituída pela cama – pois ela já não conseguia manter-se sentada. A saúde de Georges vai se debilitando junto com a de sua mulher, e a morte de Anne abala-o muito.

O filme retrata os dois lados da velhice: a questão independência de responsabilidades, dos filhos crescidos, de viver novamente para si e para o parceiro, da disponibilidade de tempo para realizar as atividades que deseja, e também a questão das novas limitações do corpo e da mente, da vulnerabilidade a doenças e até da morte de amigos próximos. Os personagens do filme refletem sobre a vida que tiveram, relembram momentos através de fotos, e se veem cada vez mais próximos do fim de suas vidas, de seu desenvolvimento. A condição médica que debilitou a saúde de Anne – o acidente vascular cerebral – foi trabalhada na disciplina de Neurociências, sendo uma das doenças mais comuns com o avanço da idade, juntamente com a hipertensão, o diabetes e o câncer. 


Roberta Zanini da Rocha

sábado, 29 de junho de 2013

Carl Fredricksen - UP - Altas Aventuras.






Trailer - UP - Altas Aventuras


"Carl Fredricksen (Edward Asner) é um vendedor de balões que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie. O terreno onde a casa fica localizada interessa a um empresário, que deseja construir no local um edifício. Após um incidente em que acerta um homem com sua bengala, Carl é considerado uma ameaça pública e forçado a ser internado em um asilo. Para evitar que isto aconteça, ele enche milhares de balões em sua casa, fazendo com que ela levante vôo. O objetivo de Carl é viajar para uma floresta na América do Sul, um local onde ele e Ellie sempre desejaram morar. Só que, após o início da aventura, ele descobre que seu pior pesadelo embarcou junto: Russell (Jordan Nagai), um menino de oito anos."



   Para Carl Fredricksen a idade adulta avançada não veio como um momento de acomodação. Aproveitou as dificuldades pelas quais estava passando que era a solidão, a perda da sua casa que representava ainda um elo entre ele e a falecida esposa Ellie para criar uma alternativa ao asilo no qual ele seria encaminhado, assim decidiu concretizar sonhos que não teve oportunidade no passado, acreditando com isso dar um sentido para essa fase e ganhar qualidade de vida, pois além dos problemas sua casa estava no meio de uma construção. Para Fredricksen aquela era a oportunidade de reavaliar sua vida, dar um novo sentido e ainda fechar situações deixadas em aberto, como o sonho de morar no Paraíso das Cachoeiras, sonho conjunto divido desde a infância com Ellie. Carl não tinha nada que o prendesse àquele lugar, apenas a casa, no decorrer da sua vida com Ellie não teve filhos, assim não tinha pra quem deixar um legado e suas histórias, então quando decidiu viajar para o Paraíso das Cachoeiras, levou seu maior bem, que era a casa e todas as lembranças que ali estavam. Porém toda a tranqüilidade que ele planejou para a viagem foi abalada pela presença de Russell, que estava na sacada quando a casa “decolou”. Fredricksen era um senhor rabugento, não muito adepto a modernidade e sem a intenção de relacionar-se, porém Russell com o passar a da viagem derreteu seu coração e ganhou sua confiança. No momento que Fredricksen tinha que escolher entre colocar a casa no tão lugar esperado ao lado das cachoeiras ou ajudar Russell a defender Kevin, a ave que virou sua amiga, decidiu ir ajudar o “defensor da natureza” e deixar seus planos pra trás, mostrando seu envolvimento com Russell.
     Na oitava e última etapa da vida da teoria de Erik Erikson chamada integridade do ego versus desespero a tarefa principal do individuo é avaliar e aceitar sua vida para aceitar a morte. Acredito que para Fredricksen essa aceitação já estava bem concretizada, seus planos para essa etapa era passar os últimos dias em sua casa na companhia das lembranças da vida construída com Ellie, só mudou esses planos devido aos imprevistos que surgiram, porém essa decisão a meu ver, não foi ancorada no desespero por fazer tudo que tinha deixado pra trás, apenas foi a solução encontrada que traria maior felicidade. Fredricksen estava sozinho, não tinha mais amigos, nem parentes, muito menos sua companheira, porém, resolveu enfrentar o problema e dar um rumo na sua vida de maneira sábia, focando no problema e não apenas na emoção.
     Os relacionamentos pessoais na terceira idade reduzem bastante, isso se deve principalmente pelo afastamento do trabalho. Conforme o capítulo dezoito do livro de Papalia, o trabalho é uma conveniente fonte para o contato social, assim os indivíduos que se aposentaram há mais tempo tem menos contatos sociais. Os relacionamentos e a saúde andam de mãos dadas, porque o apoio emocional ajuda as pessoas mais velhas a manter a satisfação de vida, em face ao estresse. Fredricksen não tinha nenhuma relação pessoal, permanecia o máximo possível dentro de sua casa. Com a decisão de viajar para o paraíso das cachoeiras essa posição seria mantida, queria passar seus últimos dias sozinho, em companhia somente da sua casa. Porém com a inusitada presença de Russell isso não foi possível. Com o passar do filme vemos a importância dos relacionamentos nessa fase avançada do desenvolvimento. Através da amizade Fredricksen pode se sentir apreciado novamente, Russell confidenciou seus problemas com sua família e Fredricksen pode perceber como o afeto fazia falta, tanto na fase final como na inicial da vida. Os dois viraram companheiros inseparáveis, assim Russell dando apoio nos sentimentos e inseguranças de Fredricksen e vice-versa, criando assim uma fonte de bem-estar. O filme exemplifica tanto o desenvolvimento da idade avançada como da infância, através de experiências completamente fora do padrão, porém com uma riqueza de características de ambas as fases, após voltarem da aventura no paraíso das cachoeiras além de todas as lembranças conquistadas, Fredricksen e Russel ainda tinham conquistado uma grande amizade.


Vanessa Kaiser

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O sentimento de solidão pode provocar a Síndrome de Alzheimer na terceira idade

" Ser solitário pode trazer diversos problemas à saúde. A mais recente descoberta associa o sentimento de solidão a maiores riscos de desenvolver a Síndrome de Alzheimer na terceira idade. Estudos anteriores já haviam estabelecido ligação entre declínio mental e demência em pessoas que se mantêm isoladas ou têm vida social bem restrita.
Agora, a pesquisa feita na Holanda, pela Sociedade de Alzheimer, investigou o assunto em mais de 2 mil pacientes e verificou que um a cada 10 dos solitários apresentou algum sinal de debilidade mental após três anos. Entre os mais ativos socialmente, a ocorrência foi de um em cada 20. E os riscos são maiores mesmo entre as pessoas que têm amigos, mas ainda assim se sentem solitárias.
 "Esses resultados sugerem que o sentimento de solidão contribui para o risco de demência na terceira idade. Interessante que se sentir sozinho mais do que estar sozinho foi associado a casos de demência”, disse Jessica Smith, especialista da entidade holandesa."



A Doença ou Síndrome de Alzheimer, como é referida na matéria acima, é classificada segundo o  DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) como um tipo de demência do Eixo I (Transtornos Clínicos), que acomete principalmente pessoas acima dos 65 anos e se manifesta por desorientação progressiva, delírios, depressão e múltiplos déficits cognitivos.
Além dos critérios diagnósticos vistos na disciplina de Saúde Mental e Psicopatologia, vimos também na disciplina de Neurociências e Comportamento que dentre as diversas consequências da Doença de Alzheimer estão: a perda progressiva da memória, dificuldade com novas aprendizagens, redução da atenção, ansiedade exacerbada, baixa tolerância à novidade. Além disso, a função colinérgica encontra-se reduzida em pacientes com a doença, em comparação com pacientes 'normais'. A perda de neurônios colinérgicos é considerada como a provável causa da perda progressiva de memória na Doença de Alzheimer.
Segundo Papalia, o declínio na saúde mental não é típico na terceira idade, assim como a demência não é uma parte inevitável do envelhecimento. Porém as perturbações mentais e comportamentais que ocorrem em adultos mais velhos podem ser devastadoras.
 
Sabe-se que manter bons vínculos familiares e relações pessoais são fatores importantes para a qualidade de vida, em todas as faixas etárias e, apesar de grande parte dos idosos serem sozinhos em razão de ter perdido a família, o cônjuge, ou por serem solteiros, as amizades demonstram ter efeitos mais positivo sobre o bem-estar dessas pessoas.
 
 "A maioria das pessoas tem amigos íntimos, e as que têm um círculo ativo de amigos são mais saudáveis e felizes (Antonucci e Akiyama, 1995; Babchuck, 1978-1979; Lemon et ai., 1972; Steinbach, 1992). Amigos amenizam o impacto do estresse na saúde física e mental (Cutrona, Russell e Rose, 1986). As pessoas que têm com quem confidenciar seus sentimentos e seus pensamentos e que sabem conversar sobre suas preocupações e sobre seu sofrimento com amigos lidam melhor com as mudanças e com as crises da velhice (Genevay 1986); Lowenthal e Haven, 1968). Elas também parecem prolongar sua vida (Steinbach, 1992)."
 
Sendo a depressão uma das manifestações da Demência de Alzheimer, ela  tende a acelerar os declínios físicos do envelhecimento e também está relacionada com diversos fatores da terceira idade, dentre eles as dores e doenças crônicas, perda de entes queridos, alteração do humor por uso de fármacos, sentimento de inadequação e de solidão.
Muitos idosos podem também se sentir sozinhos mesmo com uma grande família, por serem ou se sentirem excluídos, inadequados ou sem utilidade. 
 

 Thuanny Caldas

Solidão pode encurtar vida e dificultar o dia a dia de idosos


"Solidão na terceira idade pode aumentar risco de morte, de acordo com uma pesquisa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Além disso, tende a trazer mais dificuldades para realizar tarefas diárias. Os dados são do jornal Daily Mail.

O levantamento, que contou com informações de 1.604 pessoas com idade média de 71 anos, constatou que 43,2% dos participantes se sentem solitários. E estar só foi associado com chance maior de morte no período de seis anos de acompanhamento, sendo de 22,8% em comparação com 14,2% para os que vivem com algum parceiro. A probabilidade de declínio nas atividades diárias é duas vezes maior para os isolados.

“Nossos resultados sugerem que questionar idosos sobre solidão pode ser uma maneira útil de identificação de pessoas em risco de deficiência e baixos resultados de saúde”, disse a pesquisadora Carla Perissinotto."

Segundo Papalia (2006), na maioria dos países mais desenvolvidos, as mulheres idosas são mais propensas a viverem sozinhas do que os homens. Essa solidão, entretanto, como mostra a reportagem referenciada, pode trazer sérios riscos à saúde. Os principais fatores que podem desencadear a depressão, por exemplo, são a perda de emprego, a morte de familiares ou amigos e o fim de relacionamento. Nesse período da vida, alguns desses acontecimentos ocorrem com bastante freqüência e, somadas as perdas cognitivas comuns da terceira idade, podem causar uma experiência depressiva ao idoso.

Para Rogers, como foi estudado na Disciplina de Sistemas e Teorias I com abordagem na teoria Humanista, um fator preponderante em sua perspectiva teórica é a valorização das relações interpessoais como facilitadora do crescimento pessoal e comunitário. Para ele, o homem vive em um sistema de relações, e não isoladamente.

Entretanto, devido às restrições físicas e cognitivas vivenciadas pelo idoso nessa fase, é comum que haja redução na atividade social nessa fase. A fim de evitar esses riscos, faz-se importante que a família incentive o idoso a continuar com sua vida social ativa, pois a manutenção de uma rede social ampla, além de exercer as habilidades físicas e cognitivas, pode desempenhar papel significativo na vulnerabilidade à solidão.

                                                                                                          Iulla Portillo

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Pesquisa revela segredo da longevidade no Japão

Idosos no Japão (Ewerthon Tobace/BBC Brasil)

O Japão tem a maior média de expectativa de vida do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das Nações Unidas (ONU), e o segredo não é somente a alimentação, como se pensava.

Segundo Kenji Shibuya, professor do departamento de política global de saúde da Universidade de Tóquio, as razões da longevidade japonesa têm tanto a ver com o acesso a medidas de saúde pública quanto a uma dieta equilibrada, educação, cultura e também atitudes de higiene no dia-a-dia.
''A expectativa de vida do japonês aumentou rapidamente entre os anos 50 e 60, primeiramente, por causa da queda da taxa de mortalidade infantil'', explicou à BBC Brasil o professor Shibuya.O especialista e uma equipe de pesquisadores estudaram vários aspectos da cultura, da política e da economia japonesa que influenciam na forma de viver da população e publicaram o estudo no jornal médico The Lancet.
Depois, as autoridades concentraram esforços para combater a mortalidade adulta. O resultado positivo foi, em grande parte, consequência dessa política de saúde adotada pelo país.

Histórico de sucesso

Hoje, um bebê quando nasce no Japão pode esperar viver até 86 anos se for uma menina, e quase 80 se for menino.
Mas segundo o estudo conduzido pelo professor Shibuya, os japoneses nem sempre tiveram a perspectiva de viver por tanto tempo.
Em comparação com dados de 1947, houve um salto de mais de 30 anos na expectativa de vida de uma pessoa.
Esse crescimento começou no final da década de 50, quando o país passou a experimentar um desenvolvimento econômico acelerado.

No pós-guerra, o governo começou a investir em ações de saúde pública, introduzindo o seguro nacional de saúde em 1961, tratamento grátis para tuberculose e infecções intestinais e respiratórias, além de campanhas de vacinação.
Uma das principais ações foi a redução das mortes por acidente vascular cerebral (AVC). ''Isso foi um dos principais impulsionadores do aumento sustentado da longevidade japonesa depois de meados dos anos 1960'', contou o estudioso.
''O controle da pressão arterial melhorou através de campanhas, como a de redução do consumo de sal, e uma maior utilização de tecnologias de custo-benefício para a saúde, como medicamentos anti-hipertensivos com cobertura universal do seguro de saúde.''

Educação e cultura

Porém Shibuya lembra que o crédito dessa conquista não é só do governo. ''Em 1975, muitas doenças não transmissíveis já estavam em níveis extremamente baixos em comparação com outras nações de alta renda, devido em grande parte a uma herança cultural de cuidados com a alimentação e prática de atividades físicas'', sugere.
Além disto, segundo o estudo, os japoneses dão uma atenção à higiene em vários aspectos da vida diária. “Essa atitude pode, em parte, ser atribuída a uma complexa interação de cultura, educação, clima (por exemplo, temperatura e umidade), ambiente (por exemplo, ter água em abundância e ser um país consumidor de arroz) e a velha tradição xintoísta de purificar o corpo e a mente antes de se encontrar com outras pessoas”, diz o estudo.
''Eles também são conscientes em relação à saúde. No Japão, check-ups regulares são normais e oferecidos em larga escala em escolas e no trabalho, a todos, pelo governo'', afirma ainda o estudo. ''Em terceiro, a comida japonesa tem benefícios nutricionais balanceados e a dieta da população tem melhorado de acordo com o desenvolvimento econômico ao longo das décadas.''
Para o cantor de rua japonês Yu Rikiya, de 68 anos, o segredo é o fato de haver muitas atividades voltadas para pessoas de idade mais avançada. “Essas pessoas têm um motivo toda semana para continuar vivendo. Fazem o que gostam, se divertem e não se estressam”, sugere ele.
Além de produzir e vender os próprios CDs, Yu Rikiya canta na noite e diz que nunca se preocupou com o avanço da idade. ''Temos acesso a médicos, tratamentos e remédios. Ganho o suficiente para comer e sustentar a família. Saio com amigos para beber e curtir a vida. Então, para que se preocupar?'', questiona, sorrindo.
''Quero viver muito ainda, produzir mais música e, quem sabe, ainda ser famoso um dia'', planeja.

Envelhecimento

O lado negativo do sucesso do Japão em conseguir manter a população saudável é o desequilíbrio populacional. Até agora, cerca de 24% da população tem mais de 65 anos.
Mas cálculos do governo apontam que, em 2060, a porcentagem de idosos será de 40%, numa população que se reduzirá dos atuais 127 milhões para 87 milhões.
Segundo o estudo, a expectativa de vida deve aumentar ainda mais, chegando a 84 anos para homens e 90 para as mulheres.
''O rápido envelhecimento da população japonesa é um desafio para o sistema de saúde do Japão em termos de financiamento e qualidade dos cuidados'', aponta Shibuya.
''Simplesmente aumentar a expectativa de vida não faz mais sentido. Devemos focar mais em maximizar de forma saudável essa expectativa de vida'', sugere.
Outros desafios que o Japão enfrenta são altos índices de alcoolismo, tabagismo e suicídio, problemas gerados em parte por causa do aumento do desemprego e do prolongamento da crise econômica."

Reportagem disponível no link:

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Como exemplifica o texto acima, existem diferenças étnicas, regionais e de gênero quando trata-se da expectativa de vida da população.
Os fatores que influenciam na expectativa de vida são muitos e podemos notar que não é por nada que o povo japonês tem a maior longevidade do mundo. Hábitos, acesso a saúde, educação, cultura, tudo isso influencia na expectativa de vida.  De acordo com levantamentos da WHO (2003) a discrepância entre países subdesenvolvidos e desenvolvidos é gigantesca. Enquanto uma mulher nascida no Japão ira viver em média 85 anos, uma mulher nascida em Serra Leoa tem uma expectativa de vida menor que 36 anos.
Além do acesso à saúde, o estilo de vida é de extrema importância para se viver mais e melhor. A atividade física, quando regular e feita da forma correta, pode fortalecer o coração e os pulmões, diminuir o estresse, proteger contra a hipertensão, o endurecimento das artérias, doenças cardíacas e osteoporose. Pode ajudar também para melhorar o estado de alerta mental e o desempenho cognitivo, aliviando a ansiedade e a depressão. A nutrição é também um aspecto importante, principalmente na suscetibilidade a doenças crônicas como arteriosclerose, doenças cardíacas e diabetes e nas limitações de atividades ou limitações funcionais. Além disso, comer grutas e vegetais abaixa o risco de derrame cerebral.
Os relacionamentos sociais também parecem interferir na saúde, demonstrando que o contato social é outro fator que auxilia no aumento da expectativa de vida, contribuindo também para uma velhice com maior qualidade. O apoio emocional ajuda as pessoas mais velhas a manter a satisfação e a qualidade vida, ainda mais frente ao estresse e traumas, como a perda cônjuge, uma doença letal ou um acidente.
Outro fator importante e que influencia diretamente na qualidade de vida dos idosos são os transtornos mentais,muitos deles característicos da terceira idade. Como vimos nas disciplinas de Neurociência e Psicopatologia a demência e o Mal de Alzheimer são transtornos com um índice de incidência maior na terceira idade do que em outras fases da vida. Hábitos de vida saudáveis são fatores protetivos contra estes transtornos.


Marcela Alberti

quarta-feira, 26 de junho de 2013

I Olimpíada Estadual de Câmbio da Terceira Idade e Idosos


A Administração Municipal através do Gabinete da Vice-Prefeita juntamente com a Coordenadoria de Política para Idosos promove a I Olimpíada Estadual dos Jogos de Câmbio nas categorias Máster e Sênior. A proposta da atividade é melhorar a qualidade de vida e inclusão social da terceira idade e idosos.
O município tem cinco equipes da modalidade Câmbio constituído, as quais orgulhosamente têm levado o nome de Santa Rosa para várias competições do Estado, como nos últimos jogos realizados pelo SESC Santa Rosa, onde ficaram consagrados como vice-campeões no Câmbio masculino.
Foram mais de 300 atletas que estiveram participando desta Olimpíada, sediada em Santa Rosa. “Sentimo-nos orgulhosos das nossas equipes constituídas e dos nossos valorosos atletas que levam e projetam o nome de Santa Rosa. É política do nosso governo, com o apoio das secretarias de Esporte, Cultura e Turismo incentivarmos a qualidade de vida da nossa população através do esporte”, afirma a Vice-Prefeita, Sandra Padilha.
Para a Coordenadora dos Jogos de Câmbio, Roseli Bess, os jogos buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas com mais de 50 anos e oferecer um momento de integração dos grupos.
Após o encerramento dos jogos a programação segue com um animado baile, à noite, no Clube Cultural. Neste sábado, 21, será realizado um passeio em alguns pontos turísticos da cidade. Toda a comunidade está convidada a participar. 
Câmbio: é um jogo de voleibol adaptado, devido ao fato de ser jogado com bola e rede de vôlei, mas com regras diferenciadas.


O envelhecimento não é mais encarado como um adoecimento do indivíduo. A terceira idade não é mais enfrentada pelos idosos como um momento no qual as pessoas ficam em casa tricotando e bordando. Os idosos estão cada vez mais ativos. A atividade física traz benefícios mentais e emocionais e, por isso, cada vez mais os idosos buscam atividades que tragam uma melhoria no bem-estar, como academias e esportes coletivos. “Um estilo de vida mais ativo, permite ao idoso manter ou melhorar as suas capacidades funcionais, independência e qualidade de vida.” (Brach et. al., 2004). Por isso, é importante que os municípios realizem atividades esportivas integrativas com os idosos, assim há uma motivação e um aumento da busca de atividades que melhorem a qualidade de vida e o bem-estar do indivíduo

CLARISSA MOSCHEN PORTZ



domingo, 23 de junho de 2013

Estereótipos do envelhecimento

 tirinha 1

x

tirinha 2


             No dia-a-dia – como nas tirinhas acima – percebemos a existência de estereótipos sobre os idosos e o envelhecimento. Como estudado na disciplina de Psicologia Social I o estereótipo consiste em um núcleo cognitivo, ou seja, uma “heurística” social compartilhada sobre os atributos que caracterizam um grupo social – ex.: velhice caracterizada pela surdez (tirinha 1). Há uma generalização de características que podem ou não serem negativas. Porém, infelizmente, os estereótipos do envelhecimento são predominantemente negativos e associados à doença, solidão e dependência, como: “de que as pessoas mais velhas geralmente estão cansadas, que têm pouca coordenação motora e que são propensas a infecções e acidentes; que a maioria delas vive internada; que estão isoladas dos outros; que não usam seu tempo de maneira produtiva; que são rabugentas, autocomiserativas e excêntricas” (pp. 663, Papalia, Olds & Feldman, 2006). Portanto, ignora-se a rica heterogeneidade do processo de envelhecer e sua dinâmica de perdas e ganhos. Existe um paradigma entre essa difusão das imagens negativas da velhice e do rumo da nossa sociedade, que se encaminha majoritariamente para o envelhecimento de sua população.  Entretanto, nossa cultura continua supervalorizando símbolos da juventude e da produtividade e condenando o aparecimento das rugas e dos cabelos brancos. Esse pensamento exerce grande influência nas relações interpessoais, intergeracionais e nas atitudes, cuidados e serviços que prestamos às pessoas mais velhas.
            Um estudo realizado em Portugal por Vicente e Afonso (2012) (Artigo: Imagens do idoso e do envelhecimento em estudantes universitários) com 231 estudantes universitários sobre a percepção do processo de envelhecer teve por objetivo avaliar essa percepção e se há diferenças entre gêneros e cursos de graduação. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico e a Escala ImAges – criada por Sousa, Cerqueira e Galante (2008; como citado em Vicente & Afonso, 2012). Esta escala tem por objetivo caracterizar as imagens sociais da velhice e do envelhecimento sobre os seguintes aspectos: Dependência, tristeza e antiquado; Incompetência relacional e cognitiva; Maturidade, atividade e afetividade; Inutilidade. Os resultados apontam a grande maioria dos estudantes associando ao idoso e ao envelhecimento a dependência, a tristeza, a solidão, a incompetência e a doença (todos estereótipos negativos). Sendo o gênero masculino, quando comparado ao gênero feminino, o que mais atribuiu imagens negativas associadas à velhice. Quanto ao curso de graduação, encontrou-se que os estudantes que tiveram conteúdos sobre o envelhecimento durante sua formação foram os que atribuíram mais imagens positivas aos idosos, associadas a “Maturidade, Atividade e Afetividade”, possuindo menos estereótipos negativos acerca do envelhecimento.
            Acredito que este último resultado é de extrema importância ao passo que podemos desconstruir essa imagem puramente negativa da velhice e os preconceitos à ela associados ao inserirmos essa temática em escolas e universidades. Promovendo, assim, uma maior inclusão social dos idosos, maior qualidade nas interações entre gerações e ainda nas interações entres esses possíveis profissionais que prestarão serviços e cuidados a essa faixa etária. Todos esses fatores contribuem pra ao aumento da cidadania, respeito mútuo, coesão social, transmissão e aquisição de conhecimentos.

Kimberly Kauana Ecker
“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.
        Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.”

Muitos dos aspectos do avanço da idade estão retratadas nesse poema de Machado de Assis. A consciência da proximidade do fim, as lembranças do passado, a falta dos amigos que já se foram, os disfarces da idade que não fazem diferença, senão aos olhos dos outros. Mas também os encantos da sabedoria, da serenidade e a satisfação de feitos passados que trazem orgulho.
Lidar com a idade, com as doenças e demências associadas a ela, como as estudadas na disciplina de Neurociência e Comportamento e, principalmente, com a morte é, segundo a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, uma construção que segue uma série de etapas: negação (recusa em aceitar a realidade do que está acontecendo), raiva, depressão e, por fim, aceitação. Para levar a vida de modo sadio, nessa etapa da vida os relacionamentos são de fundamental importância, embora seja normal que a frequência dos contatos sociais diminua na velhice.
Segundo a teoria da seletividade socioemocional, pessoas mais velhas preferem passar seu tempo com pessoas que aumentam seu bem-estar emocional e o isolamento é um fator de risco para a mortalidade. As amizades na velhice concentram-se na camaradagem e no apoio, e não no trabalho e na criação dos filhos. A maioria dos adultos mais velhos possui amigos próximos, e aqueles que os têm são mais saudáveis e felizes. Amizades antigas tendem a persistir e o contato com a família é de grande importância, embora muitos idosos sintam-se melhor com amigos da mesma idade, com quem dividem histórias comuns e experiências de vida. Buscar esses contatos e não apenas esperar por eles pode fazer a diferença, pois ninguém deve depositar a sua felicidade apenas nas ações dos outros. Quando chegar a nossa vez, teremos que manter essa iniciativa. É uma lição para a vida inteira.

        Marcelo Guilherme Rödel




quinta-feira, 20 de junho de 2013

Casamento na velhice




Como visto na figura do casal idoso, no desenvolvimento físico da idade adulta avançada, a pele tende a ficar mais pálida e manchada, como algumas gorduras e músculos desaparecem a pele fica enrugada e flácida; os cabelos ficam grisalhos e mais finos. No sentindo sexual, um homem saudável que manteve uma atividade sexual ativa, pode continuar ativo durante os 70 ou 80 anos, porém eles levam mais tempo para desenvolver uma ereção e ejacular. Já as mulheres são fisiologicamente capazes de atividade sexual durante toda a vida, o principal obstáculo que elas podem enfrentar é a falta de um parceiro.
No desenvolvimento psicossocial no quesito casamento, casais que permanecem juntos na idade adulta avançada descrevem seu casamento como satisfatório, dizendo que ele melhorou nessa etapa de vida. Os cônjuges que não se divorciaram, tendem a ter resolvido suas diferenças e a ter chegado a acomodações mutuamente satisfatórias, tornando-se uma fonte de prazer comum e orgulho. (Papalia, 2006)

“Muitos casais que continuam juntos na terceira idade, especialmente em meados e fim dos 60 anos, dizem que são mais felizes no casamento agora do que eram em seus anos mais jovens. Importantes benefícios do casamento, que podem ajudar casais mais velhos a enfrentar os altos e baixos da terceira idade, incluem intimidade, compartilhamento e o senso de pertencimento um ao outro.” (Papalia, 2006)

Conforme a teoria psicanalítica de Erik Erikson, na idade adulta avançada as pessoas fazem um balanço do seu percurso de vida, fazendo um balanceamento do que se fez na vida e do que se fez da vida. Caracterizando-se esta fase como integridade x desesperança. 

Então, amar na velhice é ter cumplicidade, enfrentar o medo da morte juntos, apoiar em problemas de saúde cuidando um ao outro, ser amigo, companheiro e aproveitar o final da vida com o que antes não era possível pela criação dos filhos.




Canção na plenitude


"Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)



O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias."


Lya Luft



Laura A. de Souza



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sono na Idade Adulta Avançada




Sono e envelhecimento

O processo de envelhecimento – normal ou usual – ocasiona modificações na quantidade e qualidade do sono, as quais afetam mais da metade dos adultos acima de 65 anos de idade, que vivem em casa e 70% dos institucionalizados com impacto negativo na sua qualidade de vida.

Essas modificações no padrão de sono e repouso alteram o balanço homeostático, com repercussões sobre a função psicológica, sistema imunológico, performance, resposta comportamental, humor e habilidade de adaptação.
Os fatores que contribuem para os problemas de sono na velhice podem ser agrupados nas seguintes categorias: 1) dor ou desconforto físico; 2) fatores ambientais; 3) desconfortos emocionais e 4) alterações no padrão do sono. Nessa última categoria, incluem-se as queixas referentes ao tempo dispendido na cama sem dormir, dificuldade para reiniciar o sono, menor duração do sono noturno, maior latência de sono e despertar pela manhã mais cedo do que o desejado. 

Além dessas queixas, são também prevalentes a sonolência e a fadiga diurna, com aumento de cochilos , o comprometimento cognitivo e do desempenho diurno, e vários outros problemas, que, embora não sejam específicos do envelhecimento, têm um grande impacto sobre os idosos em decorrência de seus efeitos sobre o sono: falta de adaptação às perturbações emocionais, hábitos inadequados de sono, transtornos orgânicos e afetivos, uso de drogas (psicotrópicas ou outras), agitação noturna e quedas. 


Lorena Teresinha Consalter Geib, 2003, Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul


Alterações anatômicas e fisiológicas do idoso

O sistema nervoso é o sistema biológico mais comprometido com o processo do envelhecimento, pois é responsável pela vida de relação (sensações, movimentos, funções psíquicas, entre outros) e pela vida vegetativa (funções biológicas internas). Algumas alterações desse sistema, como diminuição de catecolaminas e dopamina, redução dos reflexos posturais e redução da fase 4 do sono, acarretam alterações como: esquecimento benigno, marcha senil e o despertar precoce, respectivamente. Outro fator fisiológico que promove alterações no sono está relacionado à glândula pineal. Esta produz um hormônio chamado melatonina, que apresenta níveis mais elevados durante o sono, parece ser inibida pela presença de luminosidade e que diminui com o envelhecimento.

Miriam Gondim Meira Tibo 



Tanto o vídeo como ambos os textos abordam uma mudança tipicamente associada ao envelhecimento: a perda de sono. A compreensão dessa e de outras alterações orgânicas e sistêmicas decorrentes do desenvolvimento requer que profissionais da saúde possuam conhecimento em áreas que estudam tanto aspectos físicos como cognitivos e psicossociais do desenvolvimento humano. Dentro do nosso curso de Psicologia, estas três áreas são estudadas em disciplinas como Desenvolvimento Humano II, Neurociências e Processos Cognitivos Básicos II.


Caroline Petersen

terça-feira, 18 de junho de 2013

Saber Envelhecer

              CÍCERO



Marco Túlio Cícero era político influente, jurista, orador e filósofo em Roma, com uma vasta obra, entre as quais temos este texto – Saber Envelhecer – que versa sobre a arte de envelhecer com sabedoria.

Em forma de diálogo, o texto discorre sobre o processo de envelhecimento. Inicia com o questionamento de amigos a um velho, Catão, sobre o peso da idade, que cita quatro razões possíveis para se achar a velhice detestável, e os contra argumentos respectivos, tais sejam:






  1.  Ela nos afastaria da vida ativa: Segundo Catão, a inteligência pode suprir falhas neste aspecto. Se não podem ser realizadas as mesmas tarefas da juventude, podem ser feitas outras até com mais eficiência. Argumenta que não é a força, a agilidade física e a rapidez que proporcionam a realização de grandes façanhas, mas sim qualidades como a sabedoria, a clarividência e o discernimento, que podem estar presentes na velhice com muito mais eficiência. Mesmo a memória, passível de sofrer declínio, pode ser conservada quando os velhos se mantêm intelectualmente ativos.
  2. Ela enfraqueceria nosso corpo: A falta de vigor é considerada o segundo inconveniente da velhice. Catão diz – “É preciso servir-se daquilo que se tem e, não importa o que se faça, fazê-lo em função dos seus meios.”Também atribui os problemas físicos aos excessos da juventude – “A herança de uma juventude voluptuosa ou libertina é um corpo extenuado.”Cada idade tem suas qualidades, e devem ser apreciadas em seu próprio tempo. É interessante notarmos que já naqueles tempos havia estímulo para a conservação da saúde pela prática de exercícios, comer e beber com moderação e ainda ocupar-se do espírito e da alma.
  3. Ela nos privaria dos melhores prazeres: Catão argumenta que é uma dádiva sermos poupados do que a adolescência tem de pior, que é a busca desenfreada pela volúpia, que “corrompe o julgamento, perturba a razão, turva os olhos do espírito e não tem nada a ver com a virtude”. Mas aconselha que cedamos a pequenos prazeres, principalmente os da mesa, mas sem excessos. Também coloca como o maior prazer possível o do espírito.
  4. Ela nos aproxima da morte: Isto é incontestável, mas é um risco também compartilhado pela juventude. Diz Catão “O tempo perdido jamais retorna e ninguém conhece o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for.” Assim, não há nada de mais natural em um velho que a possibilidade de morrer, e preferencialmente com a inteligência e sentidos intactos. Uma frase de Catão é especialmente representativa deste parágrafo – “Para ser aplaudido o ator não tem necessidade de desempenhar a peça inteira, basta que seja bom nas cenas em que aparece”.

Apesar de escrito há bastante tempo, o conteúdo abordado tem muitas similaridades com a atualidade, e podemos fazer uma analogia entre os aspectos vistos no texto acima e o 8º Estádio – Integridade x desesperança, da teoria de desenvolvimento de Erikson, onde se enquadram as pessoas com mais de 60 anos. Segundo ele, é nesta fase que as pessoas fazem um balanço do seu percurso de vida. Na obra de Cícero, há uma valorização da integridade, partindo de uma avaliação positiva do percurso vital, e mesmo com as perdas características do envelhecimento, ensina a encarar a velhice com satisfação, e assim aceitar a deterioração física e a inevitável morte como o término de algo que valeu a pena. Já as questões levantadas sobre o quanto é detestável envelhecer, diz respeito à desesperança, onde a vida é encarada como um insucesso, e as pessoas centradas neste aspecto podem ceder á angústia e ao desespero. A lição que podemos aprender diante do exposto é que, se desenvolvermos a virtude da sabedoria, que também é característica estádio, perceberemos ia de que, dadas as circunstâncias e as nossas potencialidades, não vivemos em vão.

Márcia Prass

Sobre o Tempo

Na cadeira de Psicologia do Desenvolvimento II somos convidados a atravessar em poucos meses muitas fases de uma existência. Iniciando na adolescência e suas peculiaridades passando pela Idade Adulta até chegar à Terceira Idade.
Nesta cadeira conversamos sobre o que é esperado em cada momento e como nossa cognição, emoção e corpo se expressam a cada idade.
Tais assuntos, a mim me lembram muito um autor moçambicano que gosto em demasia: Mia Couto.
Couto sempre me levou a viagens pela essência humana com sua literatura simbólica e poética e – diversas vezes – mostrou-me como a vida é marcada pela passagem do tempo.
Muitos de seus romances trazem personagens na terceira idade que retomam suas trajetórias ao longo da narrativa. Para Mia Couto a figura do “velho” representa sabedoria e simboliza o ancião que, na cultura moçambicana, é fundamental, pois é através dele que as histórias da família e do mundo se propagarão. Há de se ter em vista que esta é uma cultura, ainda, muito amparada na tradição oral.
Selecionei, pois, alguns trechos de suas obras que – a meu ver- destacam questões-chave do desenvolvimento humano: as fases psicossociais, o envelhecer (e o reconhecer a si mesmo), os aprendizados que a experiência nos traz, dentre outros.

Em Venenos de Deus, remédios do Diabo Mia Couto descreve as fases da vida da seguinte forma:
"Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias.
Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias.
Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem ideias.
Aos 40 achamos que as ideias dos outros são nossas.
Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias.
Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar.
Aos 70 só pensar já nos faz dormir.
Aos 80 só pensamos quando dormimos."

COUTO, Mia. Venenos de Deus, Remédios do Diabo. São Paulo: Companhia das letras, 2008



Couto utiliza,pois, a alegoria das ideias para indicar como cada fase da vida é marcada.
A falta da experiência e excesso de imaginação da infância; a adolescência e sua incompreensão; as fases da idade adulta marcadas pelo otimismo inicial, para o olhar para si mesmo e mais tarde desiludir-se com a ideia de se ter ideias; e na terceira idade, quando a memória e as energias físicas começam – pouco a pouco- a desfragmentarem-se e dá-se espaço para a fase de descanso das ideias.

No texto O espelho o autor coloca o confronto do indivíduo com sua imagem; o olhar que não mais se reconhece no espelho, que não se percebe como sendo aquele corpo, mas que entende que a idade faz com que nos enxerguemos diferentes.


O Espelho

"Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos."

- Mia Couto, no livro "Idades, cidades e divindades", Editora Caminho, 2007.



Focando, todavia, na meia idade penso que outro trecho de Mia Couto exemplifica bem essa ideia de um momento de reavaliação dos aspectos da vida e de perceber o que de proveitoso se tira das experiências vividas:


“Eis o que eu aprendi
nesses vales
onde se afundam os poentes:
afinal, tudo são luzes
e a gente se acende é nos outros.
A vida é um fogo,
nós somos as suas breves incandescências.”






Trecho de Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, de Mia Couto.



A meia idade é, por excelência, o período de reflexão à respeito do que se viveu e do que ainda se viverá antes da morte (tema frequente nessa fase) é, como poderiam entender os teóricos do Humanismo, hora de avaliar o sentido da vida para encontrar, então, conforto ao lidar com os temas da finitude humana.
Por fim, trazendo outro escritor para a baila, Geraldo Eustáquio de Souza tem um breve poema chamado A Idade de Ser feliz (muito atribuído a Quintana,por sinal) que, quiçá, reforce que – independentemente da fase que se vive o importante é encontrar em cada momento as razões para ser feliz.

A IDADE DE SER FELIZ

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.
Geraldo Eustáquio de Souza


Quiçá possamos entender que o passar do tempo traz consigo suas felicidades e fantasias, que cada fase da vida é repleta de novas e interessante experiências e que viver é uma aventura do presente.

RENATA MOSCHEN PORTZ