CÍCERO
Marco Túlio Cícero era político
influente, jurista, orador e filósofo em Roma, com uma vasta obra, entre as
quais temos este texto – Saber Envelhecer – que versa sobre a arte de
envelhecer com sabedoria.
Em forma de diálogo, o texto
discorre sobre o processo de envelhecimento. Inicia com o questionamento de
amigos a um velho, Catão, sobre o peso da idade, que cita quatro razões
possíveis para se achar a velhice detestável, e os contra argumentos respectivos,
tais sejam:
- Ela nos afastaria da vida ativa: Segundo Catão, a inteligência pode suprir falhas neste aspecto. Se não podem ser realizadas as mesmas tarefas da juventude, podem ser feitas outras até com mais eficiência. Argumenta que não é a força, a agilidade física e a rapidez que proporcionam a realização de grandes façanhas, mas sim qualidades como a sabedoria, a clarividência e o discernimento, que podem estar presentes na velhice com muito mais eficiência. Mesmo a memória, passível de sofrer declínio, pode ser conservada quando os velhos se mantêm intelectualmente ativos.
- Ela enfraqueceria nosso corpo: A falta de vigor é considerada o segundo inconveniente da velhice. Catão diz – “É preciso servir-se daquilo que se tem e, não importa o que se faça, fazê-lo em função dos seus meios.”Também atribui os problemas físicos aos excessos da juventude – “A herança de uma juventude voluptuosa ou libertina é um corpo extenuado.”Cada idade tem suas qualidades, e devem ser apreciadas em seu próprio tempo. É interessante notarmos que já naqueles tempos havia estímulo para a conservação da saúde pela prática de exercícios, comer e beber com moderação e ainda ocupar-se do espírito e da alma.
- Ela nos privaria dos melhores prazeres: Catão argumenta que é uma dádiva sermos poupados do que a adolescência tem de pior, que é a busca desenfreada pela volúpia, que “corrompe o julgamento, perturba a razão, turva os olhos do espírito e não tem nada a ver com a virtude”. Mas aconselha que cedamos a pequenos prazeres, principalmente os da mesa, mas sem excessos. Também coloca como o maior prazer possível o do espírito.
- Ela nos aproxima da morte: Isto é incontestável, mas é um risco também compartilhado pela juventude. Diz Catão “O tempo perdido jamais retorna e ninguém conhece o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for.” Assim, não há nada de mais natural em um velho que a possibilidade de morrer, e preferencialmente com a inteligência e sentidos intactos. Uma frase de Catão é especialmente representativa deste parágrafo – “Para ser aplaudido o ator não tem necessidade de desempenhar a peça inteira, basta que seja bom nas cenas em que aparece”.
Apesar de escrito há
bastante tempo, o conteúdo abordado tem muitas similaridades com a atualidade,
e podemos fazer uma analogia entre os aspectos vistos no texto acima e o 8º Estádio – Integridade x desesperança, da teoria
de desenvolvimento de Erikson, onde se enquadram as pessoas com mais de 60
anos. Segundo ele, é nesta fase que as pessoas fazem um balanço do seu percurso
de vida. Na obra de Cícero, há uma valorização da integridade, partindo de uma avaliação
positiva do percurso vital, e mesmo com as perdas características do
envelhecimento, ensina a encarar a velhice com satisfação, e assim aceitar a
deterioração física e a inevitável morte como o término de algo que valeu a
pena. Já as questões levantadas sobre o quanto é detestável envelhecer, diz
respeito à desesperança, onde a vida é encarada como um insucesso, e as pessoas
centradas neste aspecto podem ceder á angústia e ao desespero. A lição que
podemos aprender diante do exposto é que, se desenvolvermos a virtude da
sabedoria, que também é característica estádio, perceberemos ia de que, dadas
as circunstâncias e as nossas potencialidades, não vivemos em vão.
Márcia Prass
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