sábado, 6 de julho de 2013

Brasileiros mais felizes na terceira idade? Será?

Trazendo depoimentos de senhoras falando de suas “velhices”, pesquisa aponta felicidade na terceira idade.



Parece quase uma necessidade falar de felicidade na terceira idade, estar satisfeito com tudo e com todos. Mas o que seria essa tal de felicidade que tantos proclamam como um dever de todos nós? Proliferam textos e pesquisas na internet divulgando os números do paraíso, dicas como chegar no nirvana e tornar-se um idoso “moderninho” que pratica exercícios físicos, se cuida através de uma dieta para lá de saudável, viaja com seus semelhantes e além de tudo namora e se diz mais feliz do que nunca. Ufa!!! Fica-se cansada até de pensar nisso tudo.

“Foi-se o tempo em que envelhecer era sinônimo de melancolia e solidão. Quem ainda acredita que a terceira idade está restrita a cadeiras de balanço, agulhas de tricô e partidas de gamão não conhece a vida do idoso contemporâneo”, afirma a reportagem intitulada “Brasileiros estão mais felizes na terceira idade” e divulgada na mídia nacional. De fato, melancolia e solidão fazem parte de qualquer fase da vida, principalmente no mundo que vivemos hoje, em que a violência bate a porta, entra nas nossas casas pela televisão, pelas relações que estabelecemos sejam elas profissionais ou afetivas. Sofremos perdas irreparáveis no decorrer dos anos que deixam marcas, não se apagam com o tempo, como muitos dizem: “ah... acalme-se, o tempo apaga tudo”. Eu respondo: “não apaga não, aquilo que está impresso permanece,
fica tatuado na alma”. Talvez na velhice, as perdas fiquem potencializadas, com tudo muito intenso naquilo que foi feito, no que poderia ser evitado, nos resultados, escolhas e equívocos. Minha mãe, do alto de seus 82 anos costuma dizer: “não me arrependo de nada, se tivesse que fazer tudo de novo, faria. Não mudaria uma vírgula na minha história”. Mas não pensem que esta frase significa felicidade.

Com frases do gênero, pesquisadores seguem em busca de respostas para este comentado “envelhecer feliz”, objeto de estudo precioso se pensarmos que vivemos cada vez mais. Voltando à felicidade, a reportagem traz “uma pesquisa divulgada neste mês de outubro pelo Programa de Novas Dinâmicas do Envelhecimento que aponta que os brasileiros estão mais felizes quando chegam na terceira idade. Segundo o estudo, realizado por pesquisadores ingleses entre os anos de 2002 e 2008, a maioria dos idosos brasileiros se considera “satisfeita” ou “muito satisfeita” com suas condições de vida, com o respeito que recebem dos familiares e com o relacionamento mantido com outras pessoas”.

Interessante pensar neste “grau de satisfação”. Lembra-me as auditorias de grandes empresas com suas rigorosas classificações: “insatisfatório, satisfatório e muito satisfatório”. Devo confessar que até para uma análise técnica, o “conceito desejado”, motivo da pesquisa, sempre deixa a dever quando se analisa a complexidade de um processo. Como disse inicialmente, parece uma obrigação, principalmente, para o brasileiro estar e sentir-se feliz. E como se não bastasse isso, o idoso “brasileiro” ainda deve dizer que todos que os rodeiam são amáveis, acolhedores, gentis e queridos. Tudo isso parece demais!

O Censo Demográfico 2010 aponta um significativo aumento da população idosa no País e uma pesquisa do Banco Mundial prevê que em 2050 o número de brasileiros com mais de 65 anos deve saltar dos atuais 20 milhões para 65 milhões. Rita Khater, professora de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas destaca: “Hoje estamos envelhecendo cada vez mais e melhor. Isso se deve a diversos fatores, como melhoria da qualidade de vida e avanço da medicina”. Segundo ela, há alguns anos a representação social do idoso era a do dependente, inválido ou mesmo inútil. “Ainda existe muito preconceito com relação à velhice, mas estamos evoluindo. Isso porque o crescimento da população idosa é significativo e, naturalmente, a sociedade vai sendo obrigada a se transformar para quebrar esses paradigmas”, afirma a professora.

Não há como analisar o processo de envelhecer contemporâneo seguindo os antigos padrões, como mencionou Rita Khater. As demandas atuais são diferentes, a vida exige desse idoso outro posicionamento, não mais passivo e sim de enfrentamento. Hoje, vive-se muito mais na velhice, por volta de 30 anos, é tempo demais para pensar em desistir e partir para a “cadeira de balanço”. As trocas intergeracionais estão aí, nos bancos de escola, nas relações, no trabalho, na família, com jovens e velhos partilhando experiências e até trocando confidências.

A reportagem ainda traz a visão da psicóloga Isabella Quadros, mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP e colaboradora do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE) que explica que a visão negativa do idoso está intimamente ligada ao capitalismo. “Em uma sociedade cujo modelo econômico gira em torno do capital, o seu significado está atrelado ao que você produz. Quando você se aposenta, teoricamente deixa de produzir e, consequentemente, perde sua função no mundo. Por isso durante tanto tempo a aposentadoria foi encarada como uma espécie de sentença de morte", diz. Uma sentença, muitas vezes, imposta pelo próprio indivíduo. Fomos criados para produzir. Lembro que quando criança ouvia os adultos de minha família falarem “Você só vira gente quando produz, trabalha duro e ganha seu próprio dinheiro. Antes disso, não pode nem piar.”

Isabella ainda complementa que com o aumento da expectativa de vida, as pessoas passaram a se deparar com um futuro pós-aposentadoria de 20 ou 30 anos. “Isso é uma grande novidade: a pirâmide se inverteu. Se antes o número de jovens era superior ao de idosos, hoje temos um crescimento muito maior de pessoas na terceira idade". De acordo com a professora Rita Khater, antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho.

Pensando na aposentadoria versus lazer e projetos de vida, Maria Cristina Dal Rio, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e atualmente professora do curso de Aperfeiçoamento em Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae diz “Quando se sentem livres das obrigações formais, as pessoas tendem a olhar mais para si mesmas e a fazer o que realmente querem. Muitos idosos vivenciam a aposentadoria como um renascimento; uma possibilidade de ter novas experiências e realizar antigos sonhos.”

A reportagem traz depoimentos interessantes. É o caso de Jacy de Arruda Faccioni, de 93 anos, que desde menina sonhava em ser professora. "Vim de um regime bastante rígido e acabei me diplomando em contabilidade porque minha mãe não queria que eu fosse professora. Mas não desisti do meu sonho, e com 66 anos fui fazer Magistério", conta ela, que participa de diversas atividades para idosos oferecidas pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) de Campinas, no interior de São Paulo.

“Jaci canta, dança, atua, escreve poemas, não abre mão de uma boa taça de vinho tinto e diz que jamais sai de casa sem maquiagem”. Ela conta: “Sou muito vaidosa e independente. Faço minhas atividades no Sesc semanalmente. Frequento bailes da terceira idade, vou ao shopping com minhas amigas, lavo minha própria roupa. Sempre fui independente e sempre quero ser. Claro que a idade traz algumas limitações, mas sou da seguinte teoria: tudo na vida tem solução”. Como uma pergunta sobre o segredo da felicidade não poderia faltar, chega a reposta de Jaci: “Não guardar mágoas e ressentimentos. Isso judia muito do coração”. E completa: “Ainda hoje a vida me encanta, me fascina.” Compreensível, a vida encanta a todos nós, mas judia com muita frequência, também.
Outro exemplo é o de Dolores Fernades, sempre impecável, com os cabelos claros, bem cortados, unhas feitas, brincos de pedras e batom. Faz exercícios, canta em um coral, viaja bastante e já está de malas prontas para realizar o seu sonho: conhecer a Itália. Lola, como prefere ser chamada pelas amigas, há um mês resolveu fazer algo inédito em sua vida: morar sozinha. Essa história parece comum, comparada facilmente a de centenas de mulheres no Brasil. A diferença, neste caso, é que Lola vive bem e mais feliz do que nunca aos 81 anos de idade.

Para Lola o segredo de tanta “felicidade” é interagir, praticar atividade física, viajar e, principalmente, ter amigos. “Trabalhei a vida toda. Fui comerciante. Quando era jovem eu tinha muitas preocupações, como bancar o ensino dos meus filhos, por exemplo. Hoje o tempo que eu tenho é meu”. Talvez o segredo desta senhora foi descobrir o gosto da liberdade de viver, segundo seus próprios critérios. Se isso é felicidade? Não sei, para ela é ou parece ser.
Maria Augusta Assis, 74 anos, cantora por natureza, a aposentada mora sozinha e, segundo a reportagem, de tão animada, ganhou o título de “Rainha da Terceira Idade”. “Adoro meus amigos e sempre que posso estou com eles. Sou tão ativa que não consigo ficar quieta”, conta. Nem a eventual falta de sono à noite a perturba. "Tenho um aparelho de videokê em casa e sempre que tenho insônia, começo a cantar. É um ótimo remédio", ensina.

Na juventude ou na velhice, cada qual com seu sentido de felicidade, se é que ele realmente existe.

Link desta reportagem: 
http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/pesquisas/brasileiros-mais-felizes-na-terceira-idade-sera.html


Atualmente, ao se aposentarem, as pessoas ainda têm longos anos de vida para fazerem o que realmente querem e desfrutarem da aposentadoria com prazer de viver e realizar sonhos antigos. Nesse sentido, exemplificando a oitava etapa da vida segundo Erikson, temos a Dona Jacy, da reportagem acima: depois de se aposentar, ela resolveu, aos 66 anos de idade, começar a fazer Magistério por uma realização pessoal. Para Erikson, a conquista culminante da terceira idade é um senso de integridade do ego, ou integridade do self, conquista fundamentada na reflexão sobre a própria vida e em manter um “envolvimento social”, então nessa oitava e última etapa da vida, integridade do ego versus desespero, os adultos mais velhos têm de avaliar e aceitar suas vidas para poderem aceitar a morte, mas não em uma forma de lamentação e sim mantendo atividades diversas de envolvimento social através de contínuos estímulos e desafios que mantenham a saúde, tanto mental, quanto física em ótimas condições. A produtividade quer seja remunerada ou não, tem um papel muito importante no envelhecimento bem-sucedido – é possível que qualquer atividade regular que expresse e intensifique qualquer aspecto de self possa contribuir para o envelhecimento bem-sucedido e saudável do indivíduo. Desta forma, pode-se fazer um paralelo com a teoria de Viktor Frankl, estudado em Sistemas e Teorias I – Abordagem Humanista, em que ele fala que uma das possíveis explicações para a instalação da depressão em idosos e aposentados é o vazio existencial, atrelado à falta de sentido na vida dos mesmos. Na Logoterapia, a busca pelo sentido da vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano. Ou seja, ao se aposentarem muitos idosos não se sentem mais úteis, não veem um sentido para a sua existência, porém ao se inserirem em atividades de lazer em grupos, atividades intelectuais (como recomeçar a estudar), ou atividades voluntárias, começam a perceber e reencontrar o sentido que haviam perdido, podendo, assim, aproveitar com qualidade essa etapa da vida.

Por Juliana Lisboa Fernandes


sexta-feira, 5 de julho de 2013

O preço da eterna juventude na obra O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde


O Retrato de Dorian Gray (do original em inglês, The Picture of Dorian Gray) é o romance mais prestigiado de Oscar Wilde, considerado um dos escritores mais importantes de todos os tempos. A história foi publicada pela primeira vez em 1890 no Lippincott's Monthly Magazine. De lá para cá, vem ganhando novas edições ano após ano e já foi adaptada para o cinema e para o teatro.






















Oscar Wilde                                                                                       Primeira versão da obra


A narrativa conta a história de Dorian Gray, um jovem de 20 anos de idade, dono de uma
beleza física inimaginável e pertencente à alta burguesia inglesa que é retratado pelo pintor Basil Hallward, este por sua vez, acaba por desenvolver uma paixão platônica pelo rapaz que vira fonte de inspiração para sua arte.

Lord Henry Wotton, um aristocrata cínico e hedonista típico da época e grande amigo de Basil, conhece Dorian e o seduz para sua visão de mundo, onde o único propósito que vale a pena ser perseguido é o da beleza e do prazer. Wotton era um homem extremamente inteligente, perspicaz, irônico e tornou-se muito próximo de Dorian, passando a instigá-lo e a estudá-lo em suas reações e atitudes.

Dorian se apaixona por Sibyl Vane, uma jovem artista humilde que se apresenta em um pequeno teatro. Ao receber o convite de casamento de Dorian a moça fica lisonjeada e numa noite que representou muito mal, Dorian e seus dois amigos convidados, Basil e Wotton, fala que viverá apenas para o amor do noivo. A energia da moça foi dirigida para o objeto amado e apresentou-se como uma artista medíocre. Isto levou Dorian a desapaixonar-se. Então, ele a humilhou e desprezou. Virou-lhe as costas para nunca mais voltar. Diante disto, ela comete suicídio.

Ao chegar em casa, Dorian percebeu que seu retrato estava com uma expressão de sarcasmo e a partir daí descobre que acontecera aquilo que havia desejado em um dos seus diálogos com Lord Wotton, o retrato envelhecia e se alterava enquanto ela permanecia jovem e bonito. Desde então, Dorian passou a viver tudo que lhe era ou não permitido. Passou a ter uma conduta fria e interesseira com todos à sua volta. Apenas o quadro se alterava, transformando-se numa figura monstruosa sendo que das mãos da imagem gotejava sangue.

                                               Filme O Retrato de Dorian Gray de 2009

Quando Dorian já estava com 40 anos e seu corpo permanecia tão jovem e bonito como quando tinha 20, ele passa por uma crise de consciência e tentou voltar a levar uma vida pura, mas percebeu claramente a verdade: sua vaidade e hipocrisia era tanta que não conseguia mais mudar. A única prova de seu mau caráter, de sua consciência, era o quadro.

Numa atitude de desespero por tal situação, Dorian tentou destruir o quadro. Os criados ouviram um grito e correrram para acudir o patrão. No chão jazia o corpo castigado pelo tempo de Dorian e na parede permanecia intacto o seu magnífico retrato de quando jovem.

Esta obra pode ser importante para pensar sobre a valorização simbólica da  juventude além de despertar grande polêmica em relação ao seu conteúdo homoerótico. Na época de sua escrita, o próprio Oscar Wilde foi apontado como o pai do decadentismo na Inglaterra, coisa que ele sempre negou. Diante deste clássico da literatura, podemos pensar no processo de envelhecimento como algo natural e necessário e de como a determinados grupos sociais impõe seus padrões de corpo perfeito, beleza e riqueza como valores a ser perseguidos cegamente, "custe o que custar". O personagem Lord Wotton, parece estar sempre com inveja da beleza e juventude de Dorian, o que pode despertar uma reflexão sobre a representações da velhice e da juventude nos meios de comunicação, nos espaços públicos e nas interações do cotidiano.

Consideramos que o livro serve como base para pensar criticamente a respeito dos conteúdos vistos na disciplina de Psicologia Social I, pois a história trata das diferenças culturais e sociais, dos estereótipos, preconceitos e discriminação por parte da aristocracia vitoriana, mas que não deixa de ser a mesma das elites contemporâneas. Fala da formação da atitude e de como o meio influencia na construção social da identidade do indivíduo.

Por Marcelo Salcedo Gomes

Um olhar sobre o desenvolvimento na idade adulta avançada


A Idade adulta avançada constitui um momento da vida que por muito tempo não foi encarado como um estágio do desenvolvimento humano. Partilhando-se da crença de que o indivíduo nasce – cresce - reproduz - morre, é difícil perceber a relevância de tal período de forma a lidar com as questões encontradas.
De acordo com Berger (2003), existem hoje três grandes correntes teóricas que aprofundam o conhecimento sobre este grupo: as Teorias do Self, as Teorias da Estratificação e as Teorias Dinâmicas.
Segundo seus estudos, Berger destacou que as Teorias do Self percebem cada indivíduo com papel ativo no seu desenvolvimento. Uma das formas de se observar isso é por meio da teoria cunhada por Erik Erikson (1986) que percebe ser esse um momento de reflexão para o indivíduo, que pode transitar entre a integridade e a desesperança.  Este marco na vida da pessoa pode orientá-la a desenvolver contentamento pela forma com que levou a vida, além de querer também continuar tendo participação ativa na vida social, por analisar o caminho traçado até então de maneira positiva. Em sentido oposto, o mesmo indivíduo pode chegar à conclusão de que não viveu sua vida de forma plena como gostaria, e percebe que o tempo de vida hoje é muito curto para se voltar atrás. Essa constatação da proximidade da morte o levaria a uma situação de desesperança.

Lígia Pereira.
(http://revistapsi.iesb.br/index.php?view=article&catid=33%3Aensaios&id=106%3Aum-olhar-sobre-o-desenvolvimento-na-idade-adulta-avancada&tmpl=component&print=1&page=&option=com_content)


Com o passar dos anos e a chegada à velhice, é natural que se inicie uma "pesagem" dos acontecimentos e realizações da vida. Neste período o indivíduo tende a analisar suas experiências e classificá-las em satisfatórias ou não, dependendo do seu grau de felicidade com o fato.
Juntamente com esta análise das situações ocorre também a análise de como estas experiências modificaram sua personalidade, modo de agir e pensar etc, e de que forma estas mudanças foram responsáveis pela formação do indivíduo que se é hoje.
Parar para analisar de que forma modificamos e fomos modificados pelas experiências que passamos é processo natural durante a vida inteira, mas apenas com a maturidade é que adquirimos a experiência e o conhecimento para enxergar de forma mais completa as consequências das mudanças. 
Quando jovens, tendemos a ser mais imediatistas e pouco pacientes na hora de avaliar as consequências de nossas atitudes, tentando sempre colocar a responsabilidade das mesmas em outros. Com a maturidade tal artifício não é permitido, pois criamos a consciência de que mesmo quando somos influenciados pelos outros, mantemos certa autonomia na hora de decidir nossas ações. Baumann, em seu "44 cartas do mundo líquido moderno" (texto estudado em Antropologia da Saúde) apresenta casos que comprovam este pensamento. 
Com a maturidade, no entanto, aumenta o nível de responsabilidade por atitudes próprias e também pelos outros, pela forma como suas ações vão afetar quem lhe rodeia - exemplo dado pelas senhoras responsáveis pela criação de um calendário sensual para a arrecadação de verba para um hospital britânico, que ficaram conhecidas como "As Garotas do Calendário".
Apesar da maturidade ser considerada o final de uma jornada, exemplos de idosos que se mantem ativos e saudáveis são a prova de que mesmo após os 60 anos ainda existe muita vida para ser vivida, muitas opções para serem testadas e muitas experiências para serem avaliadas.

Aline Schwalm

O papel do Psicólogo e o estatudo do idoso como meio de atuação.

           



                      O estatuto do idoso é algo ainda novo em nossa sociedade e uma tentativa por meios legais de oferecer um crepúsculo da existência mais digno e humano. O conhecimento e a divulgação deste estatuto é no mínimo um dever cívico de cada cidadão e uma forma de humanizar e melhorar nossa sociedade pelo respeito aos que nos proporcionaram não apenas um legado, mas nos ajudaram a ser quem somos.



           Mas no caso de profissionais de saúde como o psicólogo, trata-se de uma obrigação que tange não somente aqueles que atuam em hospitais, em função de direitos ligados a internação mas também dos demais que podem e devem sempre intervir em favor da promoção da saúde e bem estar do ser humano. E no caso do idoso, estamos bem amparados legalmente para tal informação, basta apenas conhecer a legislação.
         
          



        Em especial no que diz respeito ao idoso sob a luz de outras teorias, podemos dizer que com nomenclaturas e percursos diferentes tanto a psicologia social cognitiva quanto os processos psicológicos básicos fazem alusão ao preconceito e aos erros de julgamento. Vieses, heurísticas, estereotipar, generalizar os que não pertencem ao nosso grupo são processos de economia mental aos quais temos o dever de enfrentar primeiramente em nós mesmos antes de atuarmos nas pessoas e nas organizações para que obtenhamos sucesso em nossa prática e quem sabe quebrar alguns paradigmas que já perduraram por muito tempo e que só trazem limitação e sofrimento ao ser humano.

                                                                                                     Daniel Otávio V. Serafini










Diário de Uma Paixão

                                               Diário de uma Paixão
 
 
 
                                     Diário de Uma Paixão - Trailer
 


O filme relata a história de amor de Noah e Allie. A história se inicia quando Noah, que era operário em uma pequena cidade, conhece Allie, uma garota de família rica e conservadora. Os jovens vivem um breve, porém intenso romance durante o verão, que finda devido a imposição dos pais de Allie para que voltassem imediatamente para a cidade, visto que segundo os pais o jovem não era bom o suficiente para ela.

Após alguns anos distantes, sem nenhuma comunicação, Allie, que já estava noiva de outro homem decide reencontrar Noah após vê-lo em uma matéria no jornal. A partir de então o casal permanece junto até o final de suas vidas.

No filme, Noah, já em uma idade bastante avançada, está vivendo em um lar para idosos junto com Allie, porém, ele fez essa escolha para ficar o mais perto possível de sua esposa, a qual ele lia o diário que anos antes ela escrevera sobre a história de amor deles. Allie, também em idade bastante avançada sofria de mal de Alzheimer e não reconhecia seu marido. Durante a maior parte do tempo, Allie tratava o esposo como um desconhecido, entretando, em alguns momentos se recordava dele e de toda a sua história quando ele lia o diário para ela. Porém, normalmente esses momentos de lucidez eram breves. A senhora também não reconhecia mais sua família ou tinha alguma noção real de quem ela era. Segundo o médico da instituição em que Noah e Allie viviam a doença da senhora era irreversível e sua memória estaria comprometida definitivamente.

Embora a doença mental seja menos comum entre os adultos mais velhos do que entre os mais jovens, quando essa ocorre em pessoas na terceira idade, elas tendem a ser devastadoras. O termo demência é utilizado para declínios cognitivos e comportamentais de origem fisiológica suficientes para afetar a vida diária (American Psychiatric Association[APA], 1994), sendo que alguns tipos de demência podem ser revertidos com diagnóstico e tratamento precoce (Alzheimer's Association,1998b; APA, 1994; NIA, 1993). Cerca de dois terços das demências podem ser causadas pelo mal de Alzheimer, distúrbio que Allie sofria.

A integração da disciplina Desenvolvimento e Neurociência fica bastante exemplificada ao tratarmos do mal de Alzheimer. Assim como visto nessa disciplina, na doença de Alzheimer a redução da função colinérgica está acentuadamente reduzida em comparação com pacientes que não possuem a doença. A perda de neurônios colinérgicos pode ser considerada como a provável causa da perda progressiva de memória em pacientes com a doença.

Na doença de Alzheimer há perda progressiva da memória, dificuldade com novas aprendizagens, redução da atenção, ansiedade exacerbada, baixa tolerância a novidade como consequências cognitivas. Entretando também existem consequências patológicas, como a produção excessiva de proteína Tau, deposição de placas amilóides, emaranhados fibrilares, lesão dos Núcleos Basais de Meynert, perda progressiva de neurônios colinérgicose morte das projeções que chegam ao córtex. Outras características presentes na doença de Alzheimer que são exemplificadas na personagem Allie são: esquecer permanentemente de eventos recentes (em diferentes momentos a personagem não lembra de onde pararam na história que Noah estava lhe contando), fazer as mesmas perguntas diversas vezes, incapacidade de realizar tarefas de rotina com muitas etapas, como preparar e servir uma refeição, esquecer palavras simples oscilações de humor rápidas e dramáticas e mudançade personalidade (em alguns momentos Allie tornava-se agressiva com Noah).



 



 
O mal de Alzheimer geralmente começa depois dos 60, e o risco aumenta com o avanço da idade. Atualmente o diagnóstivo preciso sobre a doença só pode ser feito após a morte, porém em uma pessoa viva o diagnóstico é feito a partir de testes físicos, neurológicos e de memória, entrevistas detalhadas com pacientes e cuidadores ou familiares próximos, podento ter aproximadamente 85% de precisão (Alzheimer's Association, 1998a; Alzheimer's Disease, Part I,1998; Cullum e Rosenberg, 1998).

Os fatores relacionados ao estilo de vida podem contribuir para a doença, sendo que a educação diminui o risco da mesma (Alzheimer's Disease, Part II, 1998; Launer et al., 1999; Small et al.,1997), e fumar o aumenta (Launer et al., 1999; Ott et al., 1998). Como vivem mais, as mulheres tem uma tendência maior de desenvolver o mal. A partir das informações do filme Allie era uma pessoa ativa, gostava de pintar e tocar piano, porém não há detalhes de sua vida após a maternidade para saber se ela mantivera suas atividades.

Embora existam diferenças de gênero na longevidade, devido a fatores como maior tendência a se cuidar e a buscar assistência médica, nível de apoio social, maior invulnerabilidade biológica dos homens, no filme Allie e Noah morrem juntos, aparentemente por volta dos 80 e poucos anos. Entretanto, a senhora ainda era alguns anos mais jovem que seu marido. Segundo Papalya (2008), os problemas de saúde das mulheres tendem a ser de longa duração, crônicas e incapacitantes, assim como o disturbio desenvolvido por Allie, enquanto os homens tendem a desenvolver doenças fatais de curta duração. Embora o foco principal do filme seja sobre a doença de Allie, destaca-se que Noah tivera dois ataques cardíacos durante a sua história, e na noite em que o casal falece, o senhor tinha acabado de voltar do hospital, pois havia passado mal novamente.

De acordo com alguns estudos a família ou cuidados normalmente perde a paciência ou se cansa com a pessoa que sofre de mal de Alzheimer, devido as contantes perguntas repetidas em breves períodos de tempo, diferentemente do que aconteceu com Allie e Noah, sendo que o marido insistia em tentar fazê-la relembrar de sua história. Uma cena bastante tocante no filme é quando Allie não reconhece seus filhos, exemplificando bastante o sofrimento de familiares de muitos portadores do mal. "Ela não lembra de nada, de nada, de nada, só do passado. Se você conversar com ela agora, nem dois minutos ela já esqueceu. (DCZ)" .







 

 
                                                    Annelise Souza dos Santos
 

 

 

 

 

 

O que fazer para manter-se saudável e com disposição?


    O Ser Saudável é uma série da TV Brasil sobre saúde que aborda, a cada programa, uma doença, ou situação que demande cuidados especiais de saúde. Apresentado pelos médicos de Família e Comunidade Camila Furtado de Souza e Enrique Barros, o programa mostra, a cada episódio, a visita que ambos fazem a pessoas que vivenciam ou vivenciaram uma doença ou situação de cuidado. Eles escutam o relato dessas pessoas, acompanham seu cotidiano, conversam com seus familiares e dão dicas e explicações. Esse papo, que estrutura o programa, é permeado pelo depoimento de especialistas consagrados, de diferentes regiões do Brasil.
   No programa do dia 29/09/2012, o Ser Saudável aborda o tema saúde na "Terceira Idade".  Neste episódio, os apresentadores conversam com o médico geriatra e coordenador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Emilio Hideyuki Moriguchi, e com o médico de família e epidemiologista, além de docente da UFRGS com atuação em saúde do idoso, Dr. Sergio Antonio Sirena, e com a educadora física e revisora das revistas Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento e Revista Brasileira de Fisioterapia, a Dra. Suzana Hübner Wolff .
Neste episódio, o telespectador vai conhecer as histórias de vida do representante comercial Antônio Martins dos Reis, 71 anos, morador de Campo Bom, no Rio Grande do Sul, que é sinônimo de saúde e disposição; e a da aposentada Therezinha Ivarne Groth, 78 anos, moradora de São Leopoldo, também no Rio Grande do Sul, que vive a terceira idade com uma rotina movimentada e busca focar a vida nas coisa alegres.


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BW0iLsxYIhc

     Como podemos perceber, os idosos participantes deste episódio do Ser Saudável fazem relação direta entre saúde e bem estar. Relatam que, para manterem-se saudáveis, fazem uso de alimentação adequada e prática regular de exercícios físicos. Segundo Papalia, atividade física, nutrição e outros fatores de estilo de vida influenciam a saúde e a doença. A obesidade, por exemplo, afeta o sistema circulatório, os rins e o metabolismo do açúcar; contribui para distúrbios degenerativos; tende a abreviar a vida. Estilos de vida mais saudáveis podem permitir que um número crescente de jovens e de adultos de meia-idade mantenham um alto nível de funcionamento físico até boa parte da velhice.   
     Contudo, sabe-se ainda que, muitos são os comprometimentos físicos e cognitivos que acometem à saúde das pessoas na terceira idade. Segundo Papalia, algumas mudanças tipicamente associadas ao envelhecimento são óbvias até para um observador casual. A pele mais velha tende a ficar mais pálida e manchada e menos flexível; como algumas gorduras e músculos desaparecem, a pele pode enrugar. Veias varicosas nas pernas tornam-se mais comuns. Os cabelos ficam grisalhos e mais finos, e os pêlos corporais tornam-se mais escassos. Mudanças menos visíveis afetam órgãos internos e sistemas corporais, o cérebro e o funcionamento sensório, motor e sexual.
    Ao pensar em comprometimentos cognitivos, podemos citar o depoimento da aposentada Therezinha Groth que percebe alterações na memória. Falhas na memória costumam ser consideradas um sinal de velhice. O homem que sempre mantinha em mente sua agenda de compromissos passa a ter que utilizar um calendário; a mulher que toma vários remédios agora separa as doses de cada dia e as coloca onde não possa esquecer-se de tomar. Dessa forma podemos relacionar o conteúdo da disciplina de Desenvolvimento II com o conteúdo referente à disciplina de Neurociências do Comportamento. Em Neurociências, estudamos os quadros associados ao envelhecimento que se dividem em dois grupos: mudanças “normais” da cognição e alterações indicativas de patologia. Dentro das mudanças “normais” da cognição destacamos as alterações dos sistemas de memória, onde, provavelmente o caso da dona Therezinha se encaixa.

É isso aí pessoal, espero que tenham gostado do postagem!

Abraços,

Nalu Tiburi Rossi!

Gerontolescentes

Preferem ir ao baile do que ao médico. Não dependem de andador para ir e vir do mercado. Comunicam-se com os filhos, os netos e os amigos pelas redes sociais. Não se vitimizam com as marcas do tempo. Em vez disso, aproveitam a força que têm para concretizar realizações pessoais, agora com maior disponibilidade de horários, mais sabedoria e melhores condições financeiras.

São os gerontolescentes, pessoas que já passaram dos 60 e optaram por investir em qualidade de vida, ignorando as limitações naturais dessa idade.

O termo foi cunhado pelo médico Alexandre Kalache, um dos geriatras que mais estudam o envelhecimento no Brasil. Kalache explica que a velhice não acontece de repente: ela representa uma soma de fatores que marcam o curso da vida ou o resultado de tudo o que já se viveu. Não há segredo para envelhecer bem, afirma, apenas algumas dicas, das quais ele destaca três: cuidar dos hábitos de saúde, organizar as finanças e manter os laços de amizade.

— É na velhice que se tem mais perdas. É nessa época que a pessoa precisa se valer de amigos, é a eles que você vai recorrer quando estiver sozinho. Essa rede social evita que você vá se deprimir — aconselha o geriatra.

Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para um crescimento populacional dos idosos no país de mais de 3% ao ano, quase três vezes acima do aumento da população total, de aproximadamente 1,1%, observado entre 2000 e 2010. Em 2050, espera-se que esse grupo corresponda a 30% da população brasileira, contra 11% atualmente.

Em seguida, três idosos considerados gerontolescentes, relatam como através de hobbys e esportes eles superam os declínios físicos e cognitivos que acompanham o desenvolvimento do adulto avançado.


Os esportes podem fortalecer o corpo do idoso que se torna mais frágil e suscetível à doenças relacionadas aos ossos, músculos e a nutrição. O aspecto físico pode ser melhorado através dessas práticas que evitam a perda de elasticidade da pele e o atrofiamento do corpo, por exemplo.


Além disso, alguns hobbys, como o do veleiro Henrique Ilha de 83 anos, fortalecem o desenvolvimento cognitivo dos idosos que tendem a perder capacidades como o raciocínio abstrato e memória, que são reforçados com as atividades amplas e diferentes.


Esses idosos caracterizam pessoas que Maslow, um teórico humanista, chamaria de pessoas motivadas pelo crescimento, que são aquelas que possuem uma necessidade de auto-realização, um desejo de crescer e usar ao máximo sua própria competência. Por mais que ocorram declínios nessa etapa da vida e um estigma em relação à ela de simplesmente "esperar pela morte", os gerontolescentes buscam crescer cada vez mais e aproveitar os benefícios que a idade avançada possui.



Gerontolescentes aproveitam o lado bom da velhice



Gabriela Mattos Saucedo





Sem hora para transformar-se*

Senhor & Sem Hora é uma forma diferente de conhecer o envelhecimento, tanto para aqueles(as) que o estão vivenciando diretamente, quanto para os(as) que de longe ou indiretamente experimentam esse estágio. Uma forma diferente, inovadora, inteligente e divertida.

Capa da edição 20, de junho de 2011
Lançada em 2009, a revista gaúcha se propõe a trabalhar com o enfoque na capacidade funcional do indivíduo. Através de uma equipe interdisciplinar, contando com profissionais da psicologia, biologia, psiquiatria, nutrição, gastronomia, fisioterapia, psicopedagogia, artes e, é claro, jornalismo, busca-se atingir diretamente o público da idade adulta avançada. 

As matérias são construídas a partir de temáticas que estimulam o envelhecimento saudável, de boa qualidade. Não há apenas a preocupação preventiva, sempre necessária quando se fala em alta expectativa de vida, mas também se visa ao(a) idoso(a) como sujeito ativo no mundo. Isto é, que tem preocupação em cuidar de si, é claro, muito embora não se reduza a isso. 

Alguém que quer experimentar o novo, conhecer seu universo, efetivamente desfrutar seu período - seja por novas aventuras, seja pela simples manutenção das possibilidades que já tinha.

Diferentemente da proposta de grande parte das produções relacionadas à idade adulta avançada, a revista desde seu nascimento se destaca, pois é pensada para seus/suas leitores(as) - já há o pressuposto do(a) idoso(a) enquanto sujeito ativo, que se interessa pelo seu próprio desenvolvimento e que está disposto a não abrir mão da sua autonomia.

Matéria da 36ª edição, de novembro de 2012

A matéria acima, por exemplo, traz à público um assunto tabu para a população de forma totalmente inclusiva. No dia-a-dia, não se fala sobre sexo na terceira idade. O texto, no entanto, não apenas coloca a sexualidade de forma não discriminatória, como também se preocupa em partir de personagens que criarão uma identificação por parte de seu/sua leitor(a). Aliás, é uma característica da revista propor formas plurais de pensamentos, como ao levantar assuntos de diversidade sexual e de gênero - afinal, mesmo que a literatura insista em colocar o(a) idoso(a) como parte de um contexto em que a normatividade, principalmente sexual, era forte, não significa que este se contemplasse pelo pensamento majoritário de seu período, além do fato de esse leitor(a) possivelmente ter um(a) neto(a) ou ter vínculo com alguém que o aproxima dessas "questões pós-modernas".

Sob um olhar da psicologia do desenvolvimento, a existência de produções como a revista apresentada é de extrema riqueza. Amplia-se a possibilidade de estudos, como também emerge uma nova fonte de informações acerca do conteúdo. A revista não é mera reprodução de conhecimento, mas um projeto inovador de transformação social e construção de novos paradigmas. Há espaços de interação entre os(as) leitores(as) - não apenas na própria revista, mas eventos sociais também. 

Desde às propagandas inseridas, até às manchetes e a estrutura dos textos: é um mundo totalmente novo. Mesmo para a psicologia, que já se ocupou de estudar o assunto... Acaba sendo uma via de troca, pois se utiliza da produção já existente da psicologia social e do desenvolvimento para ampliar o próprio campo de estudo dessas duas disciplinas.

Por sinal, uma troca curiosa, pois academicamente são disciplinas que costumam não dialogar de forma efetiva. A revista traz à tona esse desafio já em curso, de alinhar diversos conhecimentos sob um final comum, que é a "terceira idade". E, eu acredito, tem sido vencedora nesse desafio! 

Foi divulgado recentemente em sua página no facebook que a revista estará mudando de nome. Agora será chamada de "Revista Vivaz". Nas palavras do post: "As 37 edições publicadas da Senhor e Sem Hora nos deixou um amplo conhecimento sobre o “processo de envelhecimento”. Foram quase 4 anos de dedicação a um projeto que surgiu de um sonho, de um ideal e de muito empenho. Fomos pioneiros quando lançamos em 2009 a primeira revista focada na “terceira idade”, com uma linguagem diferente sobre o envelhecimento. 

Surge, então, a Revista Vivaz, “reinventando” esta fase mais madura, onde a idade cronológica não é um marcador preciso para as mudanças. Acompanhando as intenções do mercado, adequando novos hábitos, novas atitudes, desafios e interesses, estimulando as pessoas a promoverem a sua qualidade de vida para viverem mais e melhor, tornando-se cada vez mais vivazes!". 

Aguardemos, ansiosos(as), a primeira edição, que deve sair logo, logo. Enquanto isso, podemos desfrutar todo o acervo das edições anteriores da Senhor e Sem Hora clicando aqui. Confiram! 

*Escrito por: Marianna Rodrigues





Sobre a inegável passagem do tempo


O curioso caso de Benjamin Button é um filme de drama estadunidense lançado em 2008, baseado em um conto homônimo lançado em 1921 pelo escritor F. Scott Fitzgerald (1896-1940), por sua vez inspirado em uma frase do escritor Mark Twain (1835-1910): “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”
 O filme foi dirigido por David Fincher e escrito por Eric Roth, tendo como atores principais Brad Pitt e Cate Blanchett. Fitzgerald, inspirado no tema da velhice, constrói uma história que nos leva a entender, a partir do ponto de vista do personagem, pesares e alegrias decorrentes da passagem do tempo.
Imagine ser possível a vida de um homem começar na velhice e avançar para a infância. De forma realista, o filme mostra a vida de Benjamin, que nasce com uma estranha doença onde, mesmo sendo um bebê, apresenta todas as doenças comuns da velhice, além de rugas, cabelos brancos e semblante cansado. Com o passar dos anos ele descobre que, ao contrário das outras pessoas, está se tornando mais jovem: é como se o seu relógio biológico andasse para trás.

Benjamin Button: Momma? Momma? Some days, I feel different than the day before. - "Mamãe? Mamãe? Em alguns dias, me sinto diferente do que no dia anterior."
Mrs. Maple: Everyone feels different about themselves one way or another, but we all goin' the same way. - "Todo mundo se sente diferente sobre si mesmo de uma forma ou outra, mas todos nós estamos indo para o mesmo caminho."


O personagem cresce em um asilo de idosos, onde foi abandonado pelo pai, lugar natural para uma criança que nasceu no corpo de um ancião. Nesse lugar onde a morte ameaça a todo momento, Benjamin tem sua jornada de auto-conhecimento e amadurecimento, pensando sobre a transitoriedade das nossas relações.


Benjamin: I was thinking how nothing lasts, and what a shame that is. - "Eu estava pensando em como nada dura, e como isso é uma vergonha."
Daisy: Some things last. - "Algumas coisas duram"

Uma pessoa teve importância especial na vida de Benjamin: Daisy, amiga de infância por quem se apaixona e com quem o personagem vive uma descompassada história de encontros e desencontros ao longo da vida. Seu relacionamento nos leva a pensar na impossibilidade do amor eterno, mostrando que o amor tem que se deparar continuamente com a perda, inclusive com a perda da juventude.

Daisy: You're so young. – “Você está tão jovem”
Benjamin: Only on the outside. – “Apenas no exterior”

No fim da vida, Daisy resigna-se a cuidar do homem que ela tanto amou por anos, relegado à condição de uma criança com a mente de um velho. A velhice e a iminência do inevitável, a morte, são vistas aqui como uma experiência compartilhada, pois ambos, mesmo que por caminhos diferentes, estão se aproximando do fim da vida.

Daisy: Loving you is worth everything to me... - "Amar você vale tudo para mim ..."
Benjamin: I have to go pee. - "Eu tenho que ir fazer xixi."

            É possível perceber a permanência de certas características em Benjamin ao longo da vida, como a irreverência e a sensibilidade. Do mesmo modo que Benjamin vive questionando a passagem do tempo, todos nós nos fazemos as mesmas perguntas. Existem diversas teorias sobre o envelhecimento, que servem para dar aporte à compreensão de fenômenos da terceira idade. A Teoria da Continuidade, proposta pelo gerontologista Robert Atchley (1989), enfatiza a necessidade de mantermos uma conexão entre o passado e o presente: a atividade é importante por representar a continuação de um estilo de vida. Muitos aposentados são mais felizes mantendo-se em atividades de lazer ou trabalho similares às que tinham no passado. Podemos pensar sobre esse tema com diversos aspectos do filme: na vida de Daisy, a questão da dança parece ser essencial, e a forma como ela teve que abrir mão de dançar e passar a dar aulas mostra sua forma de manter certas atividades. Benjamin, que por anos se afasta de seu lar para conhecer o mundo, mais tarde retorna e o faz em diversos momentos, para a surpresa de Mrs. Marple.
Quando o envelhecimento acarreta mudanças físicas ou cognitivas, uma pessoa pode tornar-se dependente de cuidadores ou ter que fazer novos arranjos de vida. O apoio da família parece ser essencial nesse momento, e não é por acaso que toda a história de Benjamin é narrada por uma Daisy nonogenária e moribunda num leito de hospital, com a ajuda da filha. Nascimento, desenvolvimento, velhice e morte não são necessariamente um ciclo vivido a partir da juventude, o mais importante é que durante este ciclo possamos sempre aprender e compartilhar nossos aprendizados. Sobretudo, o amor permanece.

Mrs. Maple: Benjamin, we're meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us? – “Benjamin, estamos destinados a perder as pessoas que amamos. De que outra forma saberíamos o quão importantes elas são para nós?"


Permanência

Agora me lembra um, antes me lembrava outro.

Dia virá em que nenhum será lembrado.

Então no mesmo esquecimento se fundirão.
Mais uma vez a carne unida, e as bodas
cumprindo-se em si mesmas, como ontem e sempre.

Pois eterno é o amor que une e separa, e eterno o fim
(já começara, antes de ser), e somos eternos,
frágeis, nebulosos, tartamudos, frustados: eternos.
E o esquecimento ainda é memória, e lagoas de sono
selam em seu negrume o que amamos e fomos um dia,
ou nunca fomos, e contudo arde em nós
à maneira da chama que dorme nos paus de lenha jogados no galpão.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


Betina Czermainski de Oliveira