Como todos os filmes de Giuseppe Tornatore, Stanno Tutti Bene (título original) fala diretamente com a nossa alma e conta com a emocionante trilha sonora de Ennio Morricone, que curiosamente também atua no filme. Foi prêmio Ocic da crítica ecumênica internacional em Cannes, em 1990.
Toda vez que o personagem de Mastroianni liga para um de seus filhos, a vida agitada da cidade em torno dele é congelada, todos ficam imóveis, e abre-se um silêncio rompido pelo som de mais um recado deixado na secretária eletrônica. Esse foi um recurso usado por Tornatore para dar o tom da expectativa do personagem em falar com o filho, que na verdade está morto.
Estamos Todos Bem é um filme lírico, poético em cada pequeno detalhe. A estupenda interpretação de Marcello Mastroianni – que mesmo o próprio Tornatore tendo admitido anos mais tarde o erro do óculos de míope na composição do protagonista -, emociona no olhar. Lindo! Mais uma obra-prima de Tornatore, que por ter sido lançado apenas dois anos após o igualmente belo Cinema Paradido, acabou sendo ignorado pelo público e pela crítica.
O filme demonstra alguns dos principais acontecimentos da
velhice. A aposentadoria, como papel social; a diminuição do vigor físico, na
parte física; o papel familiar de ser avô e pai, mas apesar disso Matteo vive só, outro problema
dessa etapa da vida, a solidão; e principalmente o fato de se fazer uma revisão
da vida. (Papalia, Olds & Feldman 2008).
Matteo ao visitar seus filhos, espalhados por
toda a Itália, começa a relembrar e rever sua vida e sua relação com seus
filhos. Matteo acreditava que seus filhos estavam todos bem, já que havia
sacrificado parte da sua vida para dar a eles uma vida melhor. Porém, ao
visitar seus filhos percebe que nenhum deles havia alcançado o êxito que ele tanto
almejava.Conceitos como autonomia, bem-estar-subjetivo e redes de apoio, vistos na disciplina Psicologia e Saúde, são fatores imprescindíveis para a qualidade de vida. E antes de ir visitar seus filhos, e até mesmo na viagem, Matteo aparenta ter qualidade de vida, e de ser saudável biologicamente, psicologicamente e socialmente. Matteo, apesar de idoso, apresenta um alto grau de autonomia, e também um elevado nível de bem-estar-subjetivo. E embora a esposa dele já estivesse morta, ele conversa com ela em vários momentos do filme, fazendo dela sua principal rede de apoio.
Conforme Matteo vai descobrindo que seus filhos não estão bem, passa a negar esse fato, apresentando o mecanismo de defesa da negação, conceito visto nas disciplinas Psicanálise e Saúde Mental e Psicopatologia. Talvez por não suportar que todo seu esforço tenha dado em nada, ou então, pelo fato de seus filhos e netos serem a principal causa de sua qualidade de vida, pois seus filhos eram o motivo de seu bem-estar-subjetivo, eram sua rede de apoio e era por ele acreditar que seus filhos estavam bem é que Matteo estava bem, e se eles não estavam bem, ele Matteo também não poderia estar. Mas, apesar de tudo, Matteo termina o filme afirmando “estamos todos bem”.
Guilherme Weber Fornari
Muito interessante a matéria. Já vi "Estamos todos bem" várias vezes e, em cada uma delas, percebo algo diferente, uma expressão do rosto de alguém, um sorriso, uma fala ... e prefiro vê-lo com o som original. Entendo um pouco o italiano e nas dublagens perde-se muito, as mensagens são deformadas.
ResponderExcluirO elenco é excepcional e a direção de Tornatore - um craque - muito segura.
É um filme gigantesco, para ser assistido e depois "pensado" por muito tempo. A realidade dói e como dói!
Certamente, cada um de nós acaba se identificando com os personagens em algum momento, tanto com o pai quanto com os filhos.
Uma obra prima. Um filme indispensável.