Indico o artigo “Envelhecer, uma viagem para a descoberta de
si mesmo” para leitura. É um artigo lindo que nos faz parar para refletir um
pouco sobre a beleza da vida. Já que não posso reproduzi-lo na íntegra aqui, pois não se tem acesso à ele pela internet, vou copiar um trecho que nos dá muito espaço para reflexão:
“(...)relatando a vocês o que me contou Marcela, uma mulher
de 72 anos:
Eu tinha seis anos e
estava descascando ervilhas com minha avó que, nessa época, parecia-me muito
idosa. Já não lembro acerca de que girava nossa conversa, mas ainda posso ouvir
minha voz perguntando-lhe: - Se alguém lhe anunciasse que você iria morrer em
quinze minutos, o que você faria? Minha avó olhou-me com atenção e respondeu: -
Continuaria a descascar ervilhas com você.
Marcela acrescentou:
Ainda hoje lembro-me dessa frase com precisão; sem que eu
tenha pensado verdadeiramente nela, acompanhou-me a vida inteira. Abriu a porta
para um mundo que, naquele momento, eu apenas podia intuir, e que agora estou
tentando colocar em palavras.”
Quindoz, D. (2011). Envelhecer, uma viagem para a descoberta
de si mesmo. Revista Brasileira de
Psicanálise, 45(3), p. 97.
Este fragmento em si já pode despertar em nós uma série de
reflexões. É na idade adulta avançada que, ao aposentar-se, as pessoas param
para refletir sobre suas vidas. Quanto tempo elas ainda tem, o que já viveram,
quem são as pessoas que realmente importam e o que valeu sua vida até agora.
Esse momento de Marcela com sua avó foi muito importante e inesquecível para
ela, um daqueles breves momentos que se diz “animar toda a nossa existência”.
Na situação em que ela relata essa história já é idosa, e pode entender o que
avó quis lhe passar com aquelas palavras.
O fato da mulher
nunca ter se esquecido disso, mesmo não o compreendendo completamente, mostra
que ela identificou algo de muito especial nele, mas precisou ganhar
experiência e maturidade para elaborá-lo por completo. Neste pequeno episódio,
a neta se sentiu valorizada pela avó e sentiu que aquele momento era único e
especial de alguma forma, inclusive pela sua simplicidade. Como cita o artigo
“era a obra de arte das duas” e elas estavam de corpo e alma ali, e era isso
que importava.
O texto cita um conceito muito importante para todos
compreenderem o significado da velhice: reconstruir a história interna. Era o
que Marcela estava fazendo ao relatar essa história. Descobre-se a importância
de viver intensamente o tempo presente. Nessa fase da vida, as pessoas dão mais
atenção a tudo que viveram até aqui, e é importante que integrem isso tudo para
adquirir uma coerência interior para sua existência e envelhecer tranquilos.
O texto observa que a reconstrução da história interna pode ser feita em qualquer idade,
evidentemente, mas somente na idade adulta avançada eles possuem uma relevância
peculiar, pois essas pessoas sentem estar vivendo o derradeiro período de sua
vida.
Através da psicoterapia psicanalítica é possível ter esse
tempo para elaboração. Como se viu na cadeira de Psicanálise, através da
associação livre de ideias, na psicoterapia da clínica, pode-se chegar a esses
momentos simples, porém imprescindíveis para a reconstrução da história
interna, que muitas vezes só vem a consciência após muitas sessões, muitas reflexões
e muita dedicação.
Termino essa reflexão com outro trecho do artigo, que
conclui bem esse momento importante das nossas vidas:
“A necessidade de encontrar uma coerência em sua vida
intensifica-se no momento de deixá-la, pois é uma forma de apropriar-se da
própria existência. Pois, como ceder seu lugar antes de ter encontrado um
lugar, como deixar a vida antes de experimentar o sentimento de ter tido uma
vida, como terminar nossa história interna antes que ela tenha se tornado uma
“história total” coerente, nossa história?”.
Espero que gostem do artigo,
Luiza Santos D’Azevedo
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