Diminuição das capacidades cognitivas - Perda mnemônica
A velhice é frequentemente descrita como um
período caracterizado por uma diminuição das reservas, em virtude das múltiplas
perdas que ocorrem simultânea ou sucessivamente no decorrer de um curto período
de tempo. As perdas variam desde
a diminuição das relações sociais com amigos ou a perda de um cônjuge, até a
diminuição cognitiva que passa a acontecer desde os vinte e sete anos de idade,
embora de maneira imperceptível, como vimos nas disciplinas de Processos Psicológicos
Básicos I e de Neurociências e Comportamento.
O processo de envelhecimento, então, é
acompanhado de declínio em algumas habilidades cognitivas, como a memória
episódica e as funções executivas. A memória e a capacidade mnemônica,
em particular, vão, comprovadamente, diminuindo a partir da meia-idade – estudos
laboratoriais demonstram que idosos têm um desempenho muito inferior ao dos
jovens, por exemplo, em simples tarefas de memória.
As causas para o declínio da atividade cognitiva
e, em especial, da capacidade mnemônica não são exatas, entretanto,
pesquisadores oferecem diferentes explicações para essas perdas. Uma possibilidade
é que, devido às pessoas de maior idade processarem as informações mais
lentamente, elas simplesmente não são capazes de colocar tantos itens em seus compartimentos
de memória e transferi-los para o armazenamento com a mesma rapidez.
Outra explicação relaciona as perdas à atenção
seletiva. De acordo com essa teoria, quando as pessoas mais velhas precisam
memorizar informações, pensamentos irrelevantes se “intrometem” e o espaço do
compartimento existente é preenchido com qualquer outro pensamento alheio. Mesmo
com tantas e diferentes teorias a respeito das causas da perda mnemônica na
idade adulta avançada, a causa biológica para essas alterações parece ser a
mesma: a deterioração neural relacionada à idade nos lobos frontais.
As perdas cognitivas que acometem os adultos em
idade avançada são prejudiciais não somente do ponto de vista funcional, mas também
na esfera social e dos relacionamentos. Sentimentos de raiva e vergonha parecem
estar associados ao déficit cognitivo. Quando o idoso percebe que não tem as
mesmas capacidades que costumava ter, a consciência de que sua memória é,
agora, limitada causa desconforto e angústia que, juntamente com a consciência
das suas outras limitações normais da idade adulta avançada, pode levar a
quadros de depressão principalmente devido ao sentimento de dependência e à
falta de autonomia.
A falta de memória, por ser algo presente na vida
da maioria dos adultos em idade avançada, tornou-se ao longo dos anos um estereótipo
– conjunto de características atribuídas a todos os integrantes de algum grupo
específico ou de alguma categoria social específica (no caso, a idade adulta
avançada). Os estereótipos, como vimos na disciplina de Psicologia Social I,
envolvem uma supergeneralização e nos levam a pensar que todos os integrantes
de um grupo ou categoria social têm determinados atributos (no caso, os lapsos
de memória).
Pelo fato de a diminuição da capacidade mnemônica
ter se tornado tão comum e, principalmente, típica do idoso, muitas vezes os integrantes
desse grupo etário sofrem as consequências dessa supergeneralização – o que
contribui para os sentimentos de dependência, inferioridade e falta de autonomia.
Discute-se a necessidade da quebra desses
estereótipos e de uma maior inserção do idoso na sociedade, visto que, muitas
vezes, entende-se que o idoso deve cumprir o seu papel de aposentado, não
participando das atividades comuns aos mais jovens; caracteriza-se, assim, uma
das formas mais comuns de preconceito: a discriminação do idoso.
Referências
Belsky, J. (2010). Desenvolvimento humano: experienciando o ciclo da vida. Porto Alegre: Artmed.
Michener, H. A., DeLamater, J. D. & Myers, D. J. (2005). Psicologia Social. São Paulo: Thomson.
Júlia Menegaz Köbe
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