terça-feira, 2 de julho de 2013

Déficit cognitivo na idade adulta avançada


Diminuição das capacidades cognitivas - Perda mnemônica

A velhice é frequentemente descrita como um período caracterizado por uma diminuição das reservas, em virtude das múltiplas perdas que ocorrem simultânea ou sucessivamente no decorrer de um curto período de tempo. As perdas variam desde a diminuição das relações sociais com amigos ou a perda de um cônjuge, até a diminuição cognitiva que passa a acontecer desde os vinte e sete anos de idade, embora de maneira imperceptível, como vimos nas disciplinas de Processos Psicológicos Básicos I e de Neurociências e Comportamento.

O processo de envelhecimento, então, é acompanhado de declínio em algumas habilidades cognitivas, como a memória episódica e as funções executivas. A memória e a capacidade mnemônica, em particular, vão, comprovadamente, diminuindo a partir da meia-idade – estudos laboratoriais demonstram que idosos têm um desempenho muito inferior ao dos jovens, por exemplo, em simples tarefas de memória.

As causas para o declínio da atividade cognitiva e, em especial, da capacidade mnemônica não são exatas, entretanto, pesquisadores oferecem diferentes explicações para essas perdas. Uma possibilidade é que, devido às pessoas de maior idade processarem as informações mais lentamente, elas simplesmente não são capazes de colocar tantos itens em seus compartimentos de memória e transferi-los para o armazenamento com a mesma rapidez.

Outra explicação relaciona as perdas à atenção seletiva. De acordo com essa teoria, quando as pessoas mais velhas precisam memorizar informações, pensamentos irrelevantes se “intrometem” e o espaço do compartimento existente é preenchido com qualquer outro pensamento alheio. Mesmo com tantas e diferentes teorias a respeito das causas da perda mnemônica na idade adulta avançada, a causa biológica para essas alterações parece ser a mesma: a deterioração neural relacionada à idade nos lobos frontais.

As perdas cognitivas que acometem os adultos em idade avançada são prejudiciais não somente do ponto de vista funcional, mas também na esfera social e dos relacionamentos. Sentimentos de raiva e vergonha parecem estar associados ao déficit cognitivo. Quando o idoso percebe que não tem as mesmas capacidades que costumava ter, a consciência de que sua memória é, agora, limitada causa desconforto e angústia que, juntamente com a consciência das suas outras limitações normais da idade adulta avançada, pode levar a quadros de depressão principalmente devido ao sentimento de dependência e à falta de autonomia.
A falta de memória, por ser algo presente na vida da maioria dos adultos em idade avançada, tornou-se ao longo dos anos um estereótipo – conjunto de características atribuídas a todos os integrantes de algum grupo específico ou de alguma categoria social específica (no caso, a idade adulta avançada). Os estereótipos, como vimos na disciplina de Psicologia Social I, envolvem uma supergeneralização e nos levam a pensar que todos os integrantes de um grupo ou categoria social têm determinados atributos (no caso, os lapsos de memória).

Pelo fato de a diminuição da capacidade mnemônica ter se tornado tão comum e, principalmente, típica do idoso, muitas vezes os integrantes desse grupo etário sofrem as consequências dessa supergeneralização – o que contribui para os sentimentos de dependência, inferioridade e falta de autonomia.

Discute-se a necessidade da quebra desses estereótipos e de uma maior inserção do idoso na sociedade, visto que, muitas vezes, entende-se que o idoso deve cumprir o seu papel de aposentado, não participando das atividades comuns aos mais jovens; caracteriza-se, assim, uma das formas mais comuns de preconceito: a discriminação do idoso. 


Referências

Belsky, J. (2010). Desenvolvimento humano: experienciando o ciclo da vida. Porto Alegre: Artmed. 

Michener, H. A., DeLamater, J. D. & Myers, D. J. (2005). Psicologia Social. São Paulo: Thomson.

Júlia Menegaz Köbe


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