quinta-feira, 4 de julho de 2013

Envelhecer, uma Viagem para Descoberta de Si Mesmo

Indico o artigo “Envelhecer, uma viagem para a descoberta de si mesmo” para leitura. É um artigo lindo que nos faz parar para refletir um pouco sobre a beleza da vida. Já que não posso reproduzi-lo na íntegra aqui, pois não se tem acesso à ele pela internet, vou copiar um trecho que nos dá muito espaço para reflexão:

“(...)relatando a vocês o que me contou Marcela, uma mulher de 72 anos:
Eu tinha seis anos e estava descascando ervilhas com minha avó que, nessa época, parecia-me muito idosa. Já não lembro acerca de que girava nossa conversa, mas ainda posso ouvir minha voz perguntando-lhe: - Se alguém lhe anunciasse que você iria morrer em quinze minutos, o que você faria? Minha avó olhou-me com atenção e respondeu: - Continuaria a descascar ervilhas com você.
Marcela acrescentou:
Ainda hoje lembro-me dessa frase com precisão; sem que eu tenha pensado verdadeiramente nela, acompanhou-me a vida inteira. Abriu a porta para um mundo que, naquele momento, eu apenas podia intuir, e que agora estou tentando colocar em palavras.”
Quindoz, D. (2011). Envelhecer, uma viagem para a descoberta de si mesmo. Revista Brasileira de Psicanálise, 45(3), p. 97.

Este fragmento em si já pode despertar em nós uma série de reflexões. É na idade adulta avançada que, ao aposentar-se, as pessoas param para refletir sobre suas vidas. Quanto tempo elas ainda tem, o que já viveram, quem são as pessoas que realmente importam e o que valeu sua vida até agora. Esse momento de Marcela com sua avó foi muito importante e inesquecível para ela, um daqueles breves momentos que se diz “animar toda a nossa existência”. Na situação em que ela relata essa história já é idosa, e pode entender o que avó quis lhe passar com aquelas palavras.
 O fato da mulher nunca ter se esquecido disso, mesmo não o compreendendo completamente, mostra que ela identificou algo de muito especial nele, mas precisou ganhar experiência e maturidade para elaborá-lo por completo. Neste pequeno episódio, a neta se sentiu valorizada pela avó e sentiu que aquele momento era único e especial de alguma forma, inclusive pela sua simplicidade. Como cita o artigo “era a obra de arte das duas” e elas estavam de corpo e alma ali, e era isso que importava.
O texto cita um conceito muito importante para todos compreenderem o significado da velhice: reconstruir a história interna. Era o que Marcela estava fazendo ao relatar essa história. Descobre-se a importância de viver intensamente o tempo presente. Nessa fase da vida, as pessoas dão mais atenção a tudo que viveram até aqui, e é importante que integrem isso tudo para adquirir uma coerência interior para sua existência e envelhecer tranquilos.
O texto observa que a reconstrução da história interna pode ser feita em qualquer idade, evidentemente, mas somente na idade adulta avançada eles possuem uma relevância peculiar, pois essas pessoas sentem estar vivendo o derradeiro período de sua vida.
Através da psicoterapia psicanalítica é possível ter esse tempo para elaboração. Como se viu na cadeira de Psicanálise, através da associação livre de ideias, na psicoterapia da clínica, pode-se chegar a esses momentos simples, porém imprescindíveis para a reconstrução da história interna, que muitas vezes só vem a consciência após muitas sessões, muitas reflexões e muita dedicação.
Termino essa reflexão com outro trecho do artigo, que conclui bem esse momento importante das nossas vidas:

“A necessidade de encontrar uma coerência em sua vida intensifica-se no momento de deixá-la, pois é uma forma de apropriar-se da própria existência. Pois, como ceder seu lugar antes de ter encontrado um lugar, como deixar a vida antes de experimentar o sentimento de ter tido uma vida, como terminar nossa história interna antes que ela tenha se tornado uma “história total” coerente, nossa história?”.


Espero que gostem do artigo,

Luiza Santos D’Azevedo

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