O curioso
caso de Benjamin Button é um filme de drama estadunidense lançado
em 2008, baseado em um conto homônimo lançado em 1921 pelo
escritor F. Scott Fitzgerald (1896-1940), por sua vez inspirado em
uma frase do escritor Mark Twain (1835-1910): “A vida seria infinitamente mais
feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”
O filme foi dirigido por David
Fincher e escrito por Eric Roth, tendo como atores principais Brad
Pitt e Cate Blanchett. Fitzgerald, inspirado no tema da velhice,
constrói uma história que nos leva a entender, a partir do ponto de vista do
personagem, pesares e alegrias decorrentes da passagem do tempo.
Imagine
ser possível a vida de um homem começar na velhice e avançar para a infância.
De forma realista, o filme mostra a vida de Benjamin, que nasce com uma
estranha doença onde, mesmo sendo um bebê, apresenta todas as doenças comuns da
velhice, além de rugas, cabelos brancos e semblante cansado. Com o passar dos
anos ele descobre que, ao contrário das outras pessoas, está se tornando mais
jovem: é como se o seu relógio biológico andasse para trás.
Benjamin Button: Momma? Momma? Some days, I
feel different than the day before. - "Mamãe? Mamãe?
Em alguns dias, me sinto diferente do que no dia anterior."
Mrs. Maple: Everyone feels
different about themselves one way or another, but we all goin' the same way. -
"Todo mundo se sente diferente sobre si mesmo de uma forma ou outra, mas
todos nós estamos indo para o mesmo caminho."
O personagem cresce em um asilo de idosos, onde
foi abandonado pelo pai, lugar natural para uma criança que nasceu no corpo de
um ancião. Nesse lugar onde a morte ameaça a todo momento, Benjamin tem sua
jornada de auto-conhecimento e amadurecimento, pensando sobre a transitoriedade
das nossas relações.
Benjamin: I was thinking how
nothing lasts, and what a shame that is. - "Eu estava pensando em como
nada dura, e como isso é uma vergonha."
Daisy: Some things last. - "Algumas
coisas duram"
Uma
pessoa teve importância especial na vida de Benjamin: Daisy, amiga de infância
por quem se apaixona e com quem o personagem vive uma descompassada história de
encontros e desencontros ao longo da vida. Seu relacionamento nos leva a pensar
na impossibilidade do amor eterno, mostrando que o amor tem que se deparar
continuamente com a perda, inclusive com a perda da juventude.
Daisy: You're so young. – “Você está tão
jovem”
Benjamin: Only on the outside. – “Apenas no
exterior”
No
fim da vida, Daisy resigna-se a cuidar do homem que ela tanto amou por anos,
relegado à condição de uma criança com a mente de um velho. A velhice e a
iminência do inevitável, a morte, são vistas aqui como uma experiência
compartilhada, pois ambos, mesmo que por caminhos diferentes, estão se
aproximando do fim da vida.
Daisy: Loving you is worth everything to
me... - "Amar você vale tudo para mim ..."
Benjamin: I have to go pee. -
"Eu tenho que ir fazer xixi."
É possível perceber a permanência de certas características em Benjamin ao
longo da vida, como a irreverência e a sensibilidade. Do mesmo modo que
Benjamin vive questionando a passagem do tempo, todos nós nos fazemos as mesmas
perguntas. Existem diversas teorias sobre o envelhecimento, que servem para dar
aporte à compreensão de fenômenos da terceira idade. A Teoria da Continuidade,
proposta pelo gerontologista Robert Atchley (1989), enfatiza a necessidade de
mantermos uma conexão entre o passado e o presente: a atividade é importante
por representar a continuação de um estilo de vida. Muitos aposentados são mais
felizes mantendo-se em atividades de lazer ou trabalho similares às que tinham
no passado. Podemos pensar sobre esse tema com diversos aspectos do filme: na
vida de Daisy, a questão da dança parece ser essencial, e a forma como ela teve
que abrir mão de dançar e passar a dar aulas mostra sua forma de manter certas
atividades. Benjamin, que por anos se afasta de seu lar para conhecer o mundo,
mais tarde retorna e o faz em diversos momentos, para a surpresa de Mrs.
Marple.
Quando
o envelhecimento acarreta mudanças físicas ou cognitivas, uma pessoa pode
tornar-se dependente de cuidadores ou ter que fazer novos arranjos de vida. O
apoio da família parece ser essencial nesse momento, e não é por acaso que toda
a história de Benjamin é narrada por uma Daisy nonogenária e moribunda num
leito de hospital, com a ajuda da filha. Nascimento, desenvolvimento, velhice e
morte não são necessariamente um ciclo vivido a partir da juventude, o mais
importante é que durante este ciclo possamos sempre aprender e compartilhar
nossos aprendizados. Sobretudo, o
amor permanece.
Mrs. Maple: Benjamin, we're meant to lose
the people we love. How else would we know how important they are to us? –
“Benjamin, estamos destinados a perder as pessoas que amamos. De
que outra forma saberíamos o quão importantes elas são para nós?"
Permanência
Agora
me lembra um, antes me lembrava outro.
Dia virá em que
nenhum será lembrado.
Então no mesmo
esquecimento se fundirão.
Mais uma vez a carne
unida, e as bodas
cumprindo-se em si
mesmas, como ontem e sempre.
Pois eterno é o amor
que une e separa, e eterno o fim
(já começara, antes
de ser), e somos eternos,
frágeis, nebulosos,
tartamudos, frustados: eternos.
E o esquecimento
ainda é memória, e lagoas de sono
selam em seu negrume
o que amamos e fomos um dia,
ou nunca fomos, e
contudo arde em nós
à maneira da chama
que dorme nos paus de lenha jogados no galpão.
Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987)
Betina Czermainski de Oliveira
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